Em meu vídeo Os cristãos e o raciocínio, publicado ontem, terça-feira, tive o prazer de receber mais um comentário do professor de desenho Henrique Agostinho Silvério, que mora em São Bernardo do Campo, no estado de São Paulo. Henrique tem uma bagagem cultural volumosa, tão volumosa que, se fosse viajar de avião, teria que pagar pelo peso excedente. Em seu comentário, que está disponível a qualquer pessoa, ele narra acerca de um amigo que trabalha com o Direito, mas não é inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) porque não conseguiu aprovação no exame de ordem. Muita gente pensa que quem se forma em Direito tem autorização para advogar. Isso não é verdade. Para ser um advogado, a pessoa formada em Direito deve se submeter a uma prova, que é o chamado exame de ordem. Se for aprovada, aí sim, transformar-se-á num advogado.
Henrique diz que seu amigo é inteligente e culto, trabalha há muitos anos com o Direito, em escritórios jurídicos, mas sempre foi reprovado nos exames de ordem, razão pela qual ainda não é um advogado. Diz ainda o Henrique que o amigo possui 2 religiões: a católica apostólica Romana e a umbanda. Certa vez, falando sobre religião, ele disse ao Henrique, ateu desde o útero de sua mãe, já que nascemos com ausência de deuses no cérebro, que ele deveria se voltar para “deus”. Henrique, então, perguntou a que “deus” seu amigo se referia, já que são tantos os deuses criados pelo homem. E o amigo, bastante nervoso, prontamente respondeu que seu deus é o deus soberano, que está acima de tudo e de todos. Henrique lhe perguntou por que, então, esse deus que está acima de tudo e de todos até agora não o ajudou a conseguir aprovação no exame de ordem. O amigo respondeu que sua aprovação não é da vontade do deus invocado.
Henrique diz que o caso de seu amigo se encaixa perfeitamente bem no título do vídeo Os cristãos e o raciocínio. O homem religioso não consegue fazer um exercício de raciocínio. Suas afirmações se apoiam em fundamentações extremamente miseráveis. Esse caso trazido por Henrique me conduz a uma passagem de Sigmund Freud, que era ateu por excelência:
“Nenhum homem racional se comportará tão leviamente em outros assuntos nem se contentará com fundamentações tão miseráveis para seus juízos, para sua tomada de partido; ele se permite isso apenas em relação às coisas mais elevadas e mais sagradas.”
Essa afirmação de Freud se encaixa no presente caso, explica o comportamento do amigo de Henrique. Ele conhece o mundo jurídico, o universo dos processos. Trabalha com o Direito. Aqui, ele atua como homem racional. A razão acima de tudo! Ao escrever algo nos autos dos processos, ele faz uso de fundamentações racionais, lógicas, para seus pontos de vista. Só que, por outro lado, ele é um homem religioso, católico e umbandista. Quando trata de sua fé religiosa, aí ele abandona a racionalidade, deixa de ser um homem racional, passando a se contentar com fundamentações miseráveis para seus pontos de vista. No mundo jurídico, fundamentações lógicas. No mundo religioso, fundamentações miseráveis.
O amigo religioso de Henrique afirmou que não foi aprovado no exame de ordem porque não é da vontade de seu deus. Seu deus deseja que ele não alcance esse desejo, esse sonho que lhe é tão forte. Seu deus quer que ele jamais venha a assinar as petições que faz, que ele jamais possa agir por conta própria. Existe loucura maior que essa, caro leitor? Essa afirmação com carga religiosa é totalmente desprovida de fundamentação racional. Deus algum existe, deus algum quer que uma pessoa dedicada e estudiosa não consiga o sucesso tão almejado. Deus algum está acima de tudo e de todos.
No vídeo Os cristãos e o raciocínio, mostrei mais exemplos de fundamentações miseráveis com carga religiosa. Quando um cristão perde uma viagem aérea por causa do trânsito, dependendo da situação, faz uso de fundamentações miseráveis para sua tomada de partido. Se o avião cai, ele dirá que seu deus interferiu no trânsito para salvá-lo do desastre aéreo em que morreram inúmeras pessoas. Esse cristão não percebe a arrogância contida em sua própria afirmação irracional. Seu deus salvou sua vida, ao mesmo tempo desprezando as outras vidas que estavam na aeronave. Seu deus causou um problema terrível no trânsito, apenas para salvar aquele cristão, mas permitiu a morte de inúmeras pessoas que não chegaram aos hospitais por causa da paralisação no trânsito. E se o avião não cai? Aí a imaginação do cristão muda de rumo. Ele, por causa do trânsito, perdeu a viagem, ficou no prejuízo. Não dirá que seu deus interferiu no trânsito para prejudicá-lo. Colocará a culpa no prefeito ou no DETRAN, talvez, entrará até com ação na Justiça contra a prefeitura para lhe restituir o preço caríssimo da passagem aérea.
Diz um ditado popular que o pior cego é aquele que não quer ver. Eis o pior cego! Recusa-se a ver que o homem religioso não diz coisa por coisa.
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