O CRISTÃO EDEILDO OLIVEIRA E O BEBÊ ATEU
Eustáquio
3/12/2015
Caro Edeildo,
Faço questão de deixar claro que nada tenho contra você.
Nada tenho contra o fato de você ter uma crença religiosa. Como sou ateu,
apenas mostro que religião é pura ilusão, pura fantasia, pura superstição. E
assim o faço porque no Brasil existe a liberdade de expressão.
Há poucos dias, escrevi a você, afirmando que nós
nascemos ateus. E você insinuou que não. Apenas “insinuou”, claro. Resolvi, então,
fazer este artigo para lhe explicar melhor.
Edeildo, grave bem o que digo: nós, humanos, nascemos
ateus! Essa verdade pode ser comprovada pela neurociência e pela Sociologia. Para
início de conversar, é preciso entender o que significa a palavra “ateísmo”. Basta
consultar qualquer dicionário da língua portuguesa. Ateísmo quer dizer, na pura
acepção da palavra, não-deuses, ausência de deuses, descrença em deuses.
Quando um bebê nasce, será que o cérebro dele está
povoado de deuses? Os deuses estão presentes ou ausentes no cérebro de um bebê
que acabou de sair do útero materno? Como é que a gente pode descobrir isso? O
bebê, obviamente, não fala ainda. É impossível saber então por meio do bebê.
Deve-se procurar a resposta por outro meio. Em inúmeros livros de Sociologia, são
relatados casos de crianças que foram encontradas em ambientes hostis,
convivendo com animais irracionais. Essas crianças estavam sozinhas, já que
perderam seus pais. Não tinham contato algum com outras pessoas. E descobriu-se
que essas crianças não tinham crença em deuses e nem falavam língua alguma.
Por que essas crianças não falavam língua alguma? Ora,
porque elas não ouviam língua alguma, já que estavam afastadas da civilização. Um
bebê, caro Edeildo, só vai falar uma língua depois, se ouvir essa língua de
outro ser humano. Ou seja, uma criança fala a língua que ouve. Se a criança não
ouve uma língua qualquer, jamais falará. Esse fenômeno linguístico mostra o quê?
Ora, mostra que um bebê não nasce com língua alguma. A língua que ele algum dia
falará será a língua que recebeu de seus pais, de sua cultura. Ou seja, a
cultura é que vai impor essa língua à criança. E esse processo, caro Edeildo,
aconteceu com você, comigo e com qualquer pessoa. Você, Edeildo, fala a língua
portuguesa. Mas você não nasceu com ela. Você a adquiriu de seus pais, de sua
cultura. Quando você, Edeildo, ainda estava no berço, ouvia todos os dias a língua
portuguesa. E foi assimilando essa língua. E hoje fala português. Entendeu? Se
você, Edeildo, tivesse nascido em outro país, a situação seria outra. Por
exemplo, se tivesse nascido e vivido na Itália, estaria falando hoje a língua
italiana, e não a portuguesa. Por quê? Porque é a cultura em que a pessoa vive
que dita a língua, que impõe a língua a ser falada. Eis uma verdade incontestável.
Nem é necessário que uma pessoa raciocine muito para visualizá-la.
E o que ocorre com a língua, ocorre em relação a tudo.
Um bebê não nasce crente, não nasce com roupas, não nasce com língua, não nasce
com meias, não nasce com sapatos, não nasce com bicos, não nasce com mamadeiras
etc. É a cultura em que ele vive que vai colocar na cabeça dele deuses, religiões,
roupas, línguas, meias, sapatos, bicos, mamadeiras etc. Quando você, Edeildo,
nasceu, no seu cérebro, não havia deus algum, religião alguma. Você é um cristão
hoje porque, quando ainda estava no berço, recebeu de seus pais essa religião,
essa crença. Você não nasceu com ela. Seus pais lhe transmitiram a religião
cristã, a língua portuguesa, as roupas, a mamadeira, o bico etc. Se você,
Edeildo, tivesse nascido no Iraque, a situação seria outra. Não estaria falando
a língua portuguesa, o vestuário seria um pouco diferente e a religião seria
outra. Isso mostra que é a cultura em que a pessoa vive que impõe deuses,
religiões, línguas, vestuário etc.
O bebê, quando sai do útero materno, pode até ser
comparado com um computador. Naquele momento, o cérebro do bebê está desligado do
mundo cultural. Para ele, tudo é estranho. A mesma coisa ocorre com o
computador. Por exemplo, o computador não conhece uma impressora. Para ele
reconhecer uma impressora, é necessário que alguém insira um cd de instalação. Só
aí é que o computador fica ciente da impressora. O mesmo fenômeno ocorre com o
ser humano. Quando nasce, um bebê não conhece deuses, religiões, línguas, vestuário
etc. Para que ele tenha acesso a isso, é preciso que alguém coloque em seu cérebro
essas coisas: deuses, religiões, línguas etc. Do contrário, o bebê não
reconhecerá nada.
Entendeu, Edeildo?
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