Ontem, quinta-feira, dia 10, resolvi assistir ao vídeo “Nascemos ateus.
É bom argumento?” do Vinícius César e também ao vídeo “A questão do argumento
ateísta” do Ralph Gomes, ambos ateus. Os dois concordam num ponto: de fato, nascemos
ateus. Porém, divergem num ponto: o da utilidade. Vinícius César diz que esse
argumento, isto é, o de que nascemos ateus, não quer dizer nada, é chover no
molhado. Não tem utilidade alguma. Já o Ralph diz que esse argumento ateísta é
válido e racional. Com o devido respeito que alimento pelo caro Vinícius César,
hei de concordar com o Ralph.
Antes de entrar propriamente no assunto, quero deixar claro que me senti
compelido a assistir aos vídeos dos dois em razão do assunto. Há 4 anos, eu já
havia feito um vídeo com o mesmo tema, mostrando que naturalmente nascemos
ateus. Daí, portanto, minha curiosidade para ver a posição do Vinícius e do
Ralph.
Já que concordo com o Ralph, atenho-me somente ao vídeo do meu caro
Vinícius para mostrar seu equívoco no tocante às comparações infelizes com o
intuito de anular a força do argumento. Veja, pois, a manifestação do Vinícius:
Pois bem! Como você acabou de ver, o Vinícius César diz que a afirmação
“nascemos ateus” é verdadeira, mas não quer dizer muita coisa porque nós
nascemos sem andar, sem falar, sem poder ir ao banheiro para dar uma cagada,
para comer dependemos de nossa mãe, então quer dizer que nascemos
incapacitados. Daí não haver utilidade alguma no argumento de que “nascemos
ateus”.
Vinícius, nascemos naturalmente nus, ateus, sem andar, sem falar, sem
poder ir ao banheiro para dar uma cagada, sem capacidade para pegar alimentos
etc. Sim, você tem razão! Todavia, seu equívoco se resume nas infelizes
comparações trazidas aqui. Peguemos, por exemplo, uma criança com 5 anos de
idade. Essa criança, Vinícius, com apenas 5 anos de idade, já anda muito bem,
fala a língua que lhe foi imposta, vai ao banheiro sozinha para dar uma cagada,
veste a roupa que também lhe foi imposta pelos pais e tem também capacidade
para pegar alimentos, levando-os à boca. Todavia, essa criança que já sabe
andar, falar e pegar alimentos, não tem religião alguma, nem deuses. Essa
criança, por exemplo, só mencionará o nome de uma divindade ou de uma religião
qualquer se tiver ouvido de seus pais, do contrário, religiões, deuses,
vampiros, lobisomem, bicho-papão etc. estarão ausentes de seu cérebro. Ausência
de deuses no cérebro, ateísmo! A palavra “ateu” é composta por elementos da
língua grega, um prefixo “A” que significa ausência, carência ou negação e o radical
“theós” que quer dizer deus. Ateísmo, pois, quer dizer ausência, carência ou
negação de deuses. Uma criança de 5 anos de idade não tem ainda a capacidade
racional de negar deuses, mas eles estão ausentes de seu cérebro. Ateísmo
também, pois. É fácil ver, amigo Vinícius César, que uma criança com 5 anos de
idade, sem ajuda de um adulto, consegue andar sozinha, pegar os alimentos com a
própria mão, correr, peidar, cagar, mas não conseguirá crer em deus algum, em religião
alguma. Para crer em algum deus ou em alguma religião, urge a necessidade de
alguém lhe transmitir esses elementos. Isso prova, caro Vinícius, que andar,
cagar, correr, peidar e pegar alimentos são atividades naturais de um ser
humano, sem imposição de quem quer que seja. Mesmo que não haja participação
alguma de alguém, a criança fará essas coisas porque é natural que as faça. Já
crer em deuses, numa religião qualquer, não é algo natural, mas convencional. Se
os pais dessa criança ficarem em silêncio no tocante a quaisquer deuses ou a
quaisquer religiões, essa criança não terá deus algum, religião alguma porque
não são coisas naturais, como andar, cagar, correr, peidar e pegar alimentos.
Religiões, deuses e vestuários não são coisas naturais, mas convencionais. São
impostas às crianças pela sociedade em que ela vive. Criança não escolhe
roupas, religiões e deuses. Roupas, religiões, línguas e deuses serão aqueles
impostos por seus pais. O ato de falar é muito parecido com o de crer em
deuses, diferentemente do ato de andar. Como mostrei atrás, um bebê em pouco
tempo conseguirá sozinho andar, sem a ajuda de alguém. Já o ato de falar e o de
crença em deuses necessita da ajuda de alguém. Se uma criança não ouvir uma
língua qualquer, não falará língua alguma até o dia em que morrer. Da mesma
forma, se não ouvir o nome de um deus ou de uma religião, não falará acerca de
um deus ou de uma religião até sua morte. Por que uma criança nascida no Brasil
e que vive aqui fala a língua portuguesa? Ora, ela fala a língua portuguesa
porque desde o berço ouviu de seus pais a língua portuguesa. Já uma criança
nascida nos EUA, falará a língua inglesa porque é essa a língua que ela ouve e
que lhe foi imposta por seus pais. Vê-se, pois, que uma determinada língua é
imposta às crianças. Ninguém nasce falando. A gente aprende a falar ouvindo. O
mesmo fenômeno ocorre com a crença em deuses e em religiões. Ninguém nasce com
um deus ou uma religião no cérebro. Deuses e religiões são transmitidos por
seus pais a uma criança. Assim como a fala, se ninguém mencionar deus algum ou
religião alguma, a criança chegará à velhice sem crença em deus algum, em
religião alguma. É simples assim. Veja, por exemplo, uma criança nascida no
Brasil, um país em sua totalidade cristão. A probabilidade de essa criança se
tornar um adulto cristão é enorme, e falará sobre Jesus, Bíblia etc. porque foi
isso que ela ouviu de seus pais e vizinhos. Já uma criança nascida no Iraque,
numa família sunita ou xiita, não falará sobre cristianismo, mas acerca de
islamismo, profeta Maomé, Corão etc. porque foi isso que seus pais e vizinhos
colocaram em sua cabeça. Como se vê, a crença em deuses e em religiões não
nasce com o ser humano, mas lhe é imposta pela sociedade de que faz parte.
Portanto, o argumento de que “nascemos ateus” é muito importante para
mostrar que naturalmente em nosso cérebro não temos religiões e deuses. Ou
seja, não é natural a crença em deuses. Se o fosse, uma criança com 5 anos de
idade, sem interferência alguma de seus pais, involuntariamente, desenvolveria
a crença numa determinada divindade, como o faz ao andar, correr, peidar, cagar
e pegar alimentos com a própria mão. A história da humanidade nos mostra que
para desenvolver a língua foram necessários milhares de anos, e assim também
para o homem inventar a roda, a escrita, os deuses e as religiões. Portanto,
quando nascemos, deuses e religiões não habitam nosso cérebro.
E, para terminar, caro Vinícius, seu exemplo com animais irracionais foi
mais infeliz ainda. Para você, os animais irracionais também podem ser
classificados de ateus, razão por que o argumento de que nascemos ateus não tem
importância alguma. Ora, é própria do animais irracionais a incapacidade de
crer em deuses, lobisomem, saci-pererê, boitatá, mula sem cabeça, duendes,
bicho-papão etc. Já no homem é própria a capacidade de crer em deuses, lobisomem,
saci-pererê, boitatá, mula sem cabeça, de falar, de escrever. Daí a
impropriedade de fazer essa comparação.
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