ERASMO ESTEVES, o nome de batismo. O nome artístico: Erasmo Carlos. Por que CARLOS? Em primeiro lugar, por causa de Roberto Carlos e Carlos Imperial. Em segundo lugar, por causa do significado exotérico, que Erasmo descobriu lendo um almanaque sobre ocultismo. Diz Erasmo que ali estava escrito que o nome Carlos seria dotado de energia ímpar por conter as iniciais de líderes poderosos:
C - Cristo, rei dos judeus
A - Águia, rainha das aves
R - Rosa, rainha das flores
L - Leão, rei dos animais
O - Ouro, rei dos metais
S - Sol, rei dos astros
ERASMO ESTEVES, filho de Maria Diva Esteves e Nílson Ferreira Coelho, nasceu no Rio de Janeiro em 5 de junho de 1941, falecendo na mesma cidade em 22 de novembro de 2022. O pai de Erasmo não assumiu a paternidade, e sua mãe era assistente de enfermagem do SAMDU (Serviço de Assistência Médica Domiciliar de Urgência), órgão criado pela Previdência Social. Na infância e no início da adolescência, Erasmo morava na Rua do Matoso, número 113 e depois na Vila Matoso, casa 21. Depois foram morar num quartinho alugado pelos padrinhos dela, na Rua Professor Gabizo, casa 108, Tijuca.
Em 1956, com apenas 15 anos de idade, morando ainda na Rua Professor Gabizo, Erasmo viveu um sonho. Num domingo, quando voltava do Maracanã, após um 2 a 1 do Vasco contra o Bangu, viu o ônibus de seu time Vasco parado em frente à sua casa. Na rua, morava também o médico do Vasco, o dr. Valdir Cruz. Os jogadores estavam ali para comemorar o aniversário do médico, entre eles: Bellini, Orlando, Sabará, Vavá, Valter Marciano, Pinga e outros. Zagallo morava na mesma rua e, quando ia comprar pão na padaria, sempre acenava para o adolescente Erasmo. Quando viu seu time em sua rua, Erasmo correu para dentro de casa, pendurando na janela a bandeira do Vasco. No mesmo ano, Erasmo pediu à sua mãe que queria ser operado. Fimose. A família, muito pobre, juntou um dinheirinho e tudo deu certo. Depois da cirurgia, ele percebeu outro problema. Quando urinava, havia 2 jatos de urina, em forma de V por causa de uma pele pequena no orifício da uretra. Num dia, ele estava urinando num vestiário de um campo de futebol da várzea e, sem querer, um jato da urina atingiu um colega que mijava ao lado. Erasmo não procurou um médico. Resolveu esse problema somente muitos anos depois, um pouco antes da Jovem Guarda, numa viagem a Goiânia para trabalhar seu primeiro disco TERROR DOS NAMORADOS. Ali, ele praticou relações sexuais com uma morena muito bonita, rompendo a pele de sua uretra. Problema resolvido.
Erasmo desejava ser jogador. Jogava futebol de salão e de campo no time da Rua do Matoso. Seu sonho caiu por terra por causa de uma hérnia inguinal e problemas na coluna. Em 1957, com 16 anos, foi por consciência obrigado a arranjar algum emprego porque sua mãe ganhava um péssimo salário. O primeiro emprego: mostrador de imóveis, na Imobiliária Mendonça, que ficava na Praça da Bandeira. Erasmo pegava as chaves de alguns apartamentos para mostrá-los aos clientes. Jamais conseguiu vender algum dos imóveis. Ao contrário. Pegava as chaves de alguns apartamentos e ia para lá com os amigos a fim de beber cachaça com Coca-Cola. Foi rapidamente demitido. Trabalhar era um porre para ele. Arranjaram-lhe o segundo emprego: auxiliar de almoxarifado na Loja Demillus, na Avenida Gomes Freire. Erasmo só trabalhou um dia. Desapareceu! Veio o terceiro emprego: office-boy da Cerâmica São Caetano. Também não gostou, claro! E foi demitido rapidamente quando viu a secretária sentada no colo de um diretor no maior love. O quarto emprego: na ACESITA, um grupo siderúrgico, produção de aço. Erasmo também odiou o emprego. Num dia de trabalho, depois do almoço, estava dormindo. Demissão na hora. O quinto emprego: ajudante num escritório de advocacia, advogado Carmelo. Erasmo chegava às 8h, fazia limpeza superficial, atendia telefone e anotava recados. Saía às 18h. Depois, começou a chegar atrasado, deixando de fazer a limpeza. E, nesse tempo, conheceu Roberto Carlos, que o convidou para assistir ao vivo aos programas do Clube do Rock, que Carlos Imperial comandava na TV Tupi ao meio-dia. Erasmo foi e ficou maravilhado. Aquele era o mundo que ele queria. Quando chegou lá, viu Roberto Carlos, Wilson Simonal, Tony Tornado e outros. Após o show, foram para um apartamento sem móveis, onde ficaram bebendo, cantando e dançando rock até de madrugada. Roberto estava com a dançarina Maria Gladys. No dia seguinte, quando Erasmo chega ao trabalho, é demitido pelo advogado. Erasmo jurou para si mesmo que, a partir dali, só trabalharia com música.
Em 1958, com apenas 17 anos, Erasmo é levado ao mundo da música por Edson Trindade, autor da bela canção Gostava tanto de você, imortalizada na voz de Tim Maia. Edson levou Erasmo para cantar no Snakes, grupo vocal formado por ele, Arlênio e China, era uma dissidência dos Sputniks, que tinha Roberto Carlos e Tim Maia em sua formação. Com o fim dos Sputniks, Tim Maia se uniu ao grupo de Erasmo. Os ensaios eram feitos na pensão do pai de Tim, seu Altivo, um casarão antigo que ficava na rua Barão de Itapagipe. Tim Maia estava com 16 anos. Nesse mesmo ano, conheceu Roberto Carlos. Erasmo, 17 anos, estava com sua mãe no quarto alugado da Rua Professor Gabizo quando alguém bateu na porta. Trindade e Arlênio estavam ali com outro jovem que queria conhecer Erasmo. O jovem era Roberto Carlos, que morava com a família no bairro Lins de Vasconcelos. Roberto, na época, imitava Elvis Presley. Pegou o violão e cantou Tutti-Frutti e Dont’be cruel, duas canções cantadas por Elvis. Roberto, antes de ir embora, pediu a Erasmo que aparecesse na televisão. Erasmo ficou extremamente feliz com esse convite. O programa Clube do Rock era apresentado na TV Tupi, e Roberto Carlos era o cantor que mais se destacava, entre outros: Wilson Simonal, Paulo Silvino, Tim Maia e outros.
Em 1961, com 20 anos, Erasmo estava cumprindo o serviço militar no Exército, soldado de uma unidade do 2º BIB (Batalhão de Infantaria Blindada). E aí uma grande alegria: os amigos do Snakes avisaram a Erasmo que eles iam viajar para Porto Alegre, inauguração da TV Piratini. Erasmo ficou muito feliz porque iam viajar de avião com tudo pago, inclusive hotel, mulheres e, além disso, cantar. Que maravilha! No dia da viagem, Erasmo devia estar de serviço no quartel, mas pagou a um soldado para trabalhar no lugar dele. Logo depois, Erasmo deixava o grupo. A partir de 1962, com 21 anos, passou a trabalhar com Carlos Imperial, mas como secretário particular e coordenador do seu programa de rádio. E aí o trio forte: Imperial, Roberto Carlos e Erasmo. Graças ao Imperial, Erasmo lançou o primeiro disco Eu quero twist. Em 1963, começou a parceria Roberto e Erasmo Carlos com a canção Parei na Contramão, e aí o surgimento do programa Jovem Guarda, em 1965, na TV RECORD, em São Paulo, onde Roberto e Erasmo foram morar. Fama e muito dinheiro em jogo. Sucesso total em todo o Brasil.
Em 1967, um fato extremamente desagradável: o fim temporário da amizade de Roberto e Erasmo. Como isso ocorreu? Foi assim: Erasmo foi ao programa Show em Simonal para ser homenageado como compositor. Cantou um medley com 8 músicas e ninguém se lembrou da parceria dele com Roberto. Os créditos ficaram apenas para Erasmo. Quando Roberto soube, ficou furioso com o amigo, afastando-se dele. Durante longos meses ficaram sem dirigir a palavra para o outro. Os dois sofreram muito. Alguns meses depois, Erasmo recebe uma fita com uma melodia gravada por Roberto e um bilhete, dizendo: “Bicho, não estou mais zangado com você. Essa letra você faz em 10 minutos”. A música era Eu sou terrível. Nessa época, um fato engraçado foi a época dos carrões. Roberto havia comprado um jaguar. Ronnie Von, um Corvette. Agnaldo Rayol, um Lincoln. E Erasmo, para superar a todos, um Rolls Royce 1950.
Nesse mesmo ano (1967), com 26 anos, Erasmo enfrenta um processo de corrupção de menores. Ele e o cantor Eduardo Araújo levaram umas meninas para a casa do Carlos Imperial. Mais tarde, a polícia do Rio pegou as meninas andando sozinhas em Copacabana. Elas, menores de idade, disseram que estavam na casa do Imperial, com Erasmo Carlos e Eduardo Araújo, numa festinha regada a álcool e sexo. Erasmo ficou um ano proibido de se apresentar em programas de tv e fazer shows no Rio. O Juizado de Menores decretou a prisão de Eduardo e Carlos Imperial, mas eles fugiram.
Erasmo sempre deixou claro que nada rolou entre ele e sua amiga Wanderléa. Não foi por falta de vontade dele. O pai da cantora, seu Salim, sempre a protegia. Em 1968, ano do último programa Jovem Guarda, Erasmo estava no Rio, muito feliz porque ia se encontrar com a Miss Rio de Janeiro, que havia conhecido no Programa Almoço com as Estrelas, do Aerton Perlingeiro, na TV Tupi. Era uma morena belíssima, de fechar trânsito. Quando ele chegou à casa da jovem, ficou triste porque ela lhe disse que sua mãe ia junto com eles. Chegando a uma boate, lá estava Carlos Imperial, beijando loucamente uma jovem. A mãe da Miss estava achando aquilo um absurdo, uma depravação sem fim. Levantou-se da cadeira, pegou a filha e foram embora, deixando Erasmo sozinho. E a mulher disse: “Deus me livre deixar minha filha com essa corja. São todos uns animais pervertidos”.
No carnaval de 1969, com 28 anos, Erasmo conhece Narinha, que seria a mulher de sua vida, num baile, no Clube Monte Líbano, na Lagoa, no Rio, aonde chegara com Jerry Adriani. Ela estava com o cantor Taiguara, mas sempre olhando para Erasmo. Erasmo pediu o número do telefone de Scheila, irmã de Narinha. No dia seguinte, com a maior cara de pau, liga, pedindo para falar com a irmã. E aí começou o romance. Taiguara ficou para trás. Em 1970, Erasmo volta a morar no Rio de Janeiro, comprando um apartamento para sua mãe, na Rua Barata Ribeiro, em Copacabana. Aos 31 anos de idade, Erasmo ficou muito triste porque apareciam os primeiros sinais de sua calvície. Ficou apavorado. Orientado por amigos, passou nos cabelos babosa, rolha queimada e baba de mamoeiro, corte dos cabelos nas fases certas da Lua, comeu bastante fígado, cenoura e mamão, e nada. Sua mãe disse que o filho estava ficando careca porque o cérebro estava muito cansado. Erasmo, então, resolveu assumir sua calvície.
Outro fato marcante foi o encontro de Erasmo com Ronnie Von, em 1965, numa festa de aniversário no Bairro de Fátima, no Rio. Ronnie ainda não havia se destacado no cenário musical. Os dois passaram a conversar sobre a admiração de ambos por Elvis Presley, Ray Charles, Beatles e outros. Erasmo ficou encantado com a inteligência de Ronnie, que estudava economia, pilotava aviões, não falava gírias e era filho de diplomata. Pouco tempo depois, Ronnie convidou Erasmo para visitar sua mansão, no Morumbi, São Paulo, onde morava com sua esposa, Aretusa. Erasmo ficou extasiado diante de tamanha beleza. Foi conduzido por Ronnie à belíssima sala de estar, onde havia uma cadeira Luís XV, do século XVII. Naquele instante, o telefone toca, e Ronnie vai a outro cômodo da mansão para atender a ligação, pedindo licença a Erasmo. Erasmo decide sentar-se sobre a cadeira. Não deu outra. A cadeira se espatifou. Que vergonha! Ronnie e Aretuza ouviram o barulho e correram para a sala quando viram Erasmo no chão com os restos da valiosa cadeira. Erasmo ficou assombrado com a tranquilidade e elegância dos dois. Foi embora envergonhado. Tempos depois, recebe um recado de Ronnie Von, comunicando a ele que pode voltar à mansão porque a cadeira ficou novinha em folha.
A história da música AMIGO, composta somente por Roberto Carlos. Em 1977, Nice, casada com Roberto Carlos, telefonou para Narinha, esposa de Erasmo Carlos, confidenciando que Roberto havia feito uma surpresa para Erasmo. Ela não disse que a surpresa era a canção AMIGO. À noite, Roberto e Nice chegam ao apartamento de Erasmo, localizado na Avenida Vieira Souto, de frente para o mar de Ipanema, levando uma cópia da canção em fita cassete. Após o jantar, Roberto aciona o gravador. E a música invade o ambiente. Erasmo e sua esposa Narinha ficam assombrados com tamanha beleza. Roberto diz que a música foi feita para Erasmo. Narinha e Erasmo choram de alegria. Roberto e Nice vão embora. Erasmo, gaiato, sempre dizia que Roberto era seu segundo melhor amigo. Segundo? Roberto perguntou quem era o primeiro melhor amigo de Erasmo. E ele disse que o melhor amigo dele era seu pênis porque era o símbolo de sua virilidade, o instrumento de seu prazer, que não pedia nada a ele, que não dava trabalho e que estava sempre pronto para a guerra. Roberto riu muito, perguntando a Erasmo: “Erasmo, teu piru já te emprestou dinheiro?” Erasmo respondeu com um
não. Então Roberto lhe disse: “ah! Então eu sou o seu melhor amigo!”
O grande amigo de Erasmo, na infância, foi o Tião (Sebastião Rodrigues Maia,
que seria mais tarde o famoso cantor Tim Maia. Seu Altivo e dona Maria, pais de Tim Maia, possuíam uma pensão simples, vendendo comidas, sendo Tião o entregador. Ele entregava marmitas também na casa de Erasmo. E a comida demorava a chegar. Erasmo, desconfiado, passou a seguir os passos de Tião. Descobriu que Tião abria as marmitas e comia um pouco dos alimentos. Erasmo reclamou, e Tião, com raiva, corria em direção a Erasmo para enfiar-lhe um garfo.
Em 1974, Erasmo e Narinha estiveram na Pousada do Rio Quente, em Goiás. Erasmo veio para um festival musical em Goiânia. Depois, partiram para a pousada. Adorou o parque aquático. No último dia de hospedagem, altas horas da noite, ele e Narinha entraram numa das piscinas quentes e passaram a fazer amor. Nisso, aparece um segurança determinando que eles parassem com aquela safadeza. E esse escândalo se espalhou pela imprensa em geral. Meses depois, nasceu o filho Leonardo, com o início de fabricação na pousada.
Outro fato interessante ocorreu no aeroporto de Vitória, no estado do Espírito Santo. Em 1982, após dois shows em Aracruz e Conceição da Barra, Erasmo se desentendeu com seu amigo Alcides. E os dois passaram a trocar socos, caindo ao chão. Erasmo havia levado seus filhos Gugu e Léo, e achou que Alcides tinha sido indelicado com eles. Apareceu uma policial, dando voz de prisão a Erasmo, por perturbação da ordem. Foi algemado. Todos estavam dizendo que aquela desavença era entre amigos, que Alcides e Erasmo eram como se fossem irmãos de sangue, mas não adiantou. O próprio Alcides se oferecia para ser preso em lugar do amigo. Um oficial superior apareceu no local e ouviu as explicações de Erasmo, determinando que a algema fosse retirada e pedindo desculpas a todos.
Em 1972, Erasmo e sua esposa Narinha foram visitar Raul Seixas, em seu apartamento, na Fonte da Saudade, juntinho da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio. Foi recebido por Raul, com muita alegria, que lhe apresentou a esposa Glória Vaquer, uma americana simpática. Raul disse a Erasmo que era apaixonado pelo rei Elvis Presley, e presenteou a ele um disco de Elvis, escrevendo, na capa, uma longa dedicatória que Erasmo nunca conseguiu desvendar por causa das letras incompreensíveis.
Em 1985, a separação do casal Erasmo e Narinha. No dia 26 de dezembro de 1995, a morte dela. Suicídio. Em fevereiro de 2004, faleceu sua mãe, dona Diva, câncer nos seios. Antes, um derrame a condenou a uma cadeira de rodas. No dia 22 de novembro de 2022, com 81 anos, faleceu Erasmo, no Hospital Barra Dor, na Tijuca, um dia após ser internado. A causa da morte foi uma paniculite complicada por sepse de origem cutânea. Paniculite é a inflamação da camada de gordura que fica abaixo da pele, podendo, em caso grave, levar ao óbito. Seu corpo foi cremado no Cemitério do Caju, no Rio.
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