RITA LEE JONES, filha de Charles Fenley Jones e Romilda Padula, nasceu, em São Paulo, no dia 31 de dezembro de 1947, e faleceu, na mesma cidade, em 8 de maio de 2023. O LEE de Rita não é sobrenome de família. Seu pai, Charles, o colocou nas 3 filhas (Mary, Virgínia e Rita) em homenagem ao general confederado norte-americano Robert Edward Lee.
“MANIA DE VOCÊ
Meu bem, você me dá água na boca
Vestindo fantasias, tirando a roupa
Molhada de suor
De tanto a gente se beijar
De tanto imaginar loucuras
A gente faz amor por telepatia
No chão, no mar, na lua, na melodia”
Seu pai, nascido em Santa Bárbara d’Oeste, no estado de São Paulo, era filho de imigrantes norte-americanos, maçom e formado em Odontologia, com consultório odontológico instalado na Rua Xavier de Toledo, 98, capital. Sua mãe era filha de imigrantes italianos, extremamente católica.
A família morava num casarão dos anos 1920, na Rua Joaquim Távora, 670, na Vila Mariana. O casal teve 3 filhas: Mary Lee Jones, Virgínia Lee Jones e Rita Lee Jones, a caçula. Além delas, moravam lá 2 mulheres: Luíza Rodrigues e Carolina Saccomano, que eram consideradas como filhas.
Um fato ruim ocorrido com Rita Lee, com apenas 5 ou 6 anos de idade, merece relevo aqui. A perda de sua virgindade! Ocorreu assim: num certo dia, a máquina de costura de sua mãe pifou. Foi chamado um técnico de uma firma. Quando ele estava consertando a máquina, o telefone tocou, e a mãe de Rita foi atender a ligação em outro ambiente da casa. Nesse curto tempo, o desgraçado do técnico enfiou o cabo de uma chave de fenda na vagina da pobre criança, e saiu correndo. A mãe de Rita, desesperada, controlou-se. Não levou a criança ao hospital, conseguindo retirar o cabo da chave de fenda, mesmo com a saída de uma gosma vermelha. Ela não levou o fato ao conhecimento da polícia por uma razão bem simples: se o esposo Charles, pai de Rita, soubesse, com certeza mataria o técnico. A família composta por 6 mulheres era totalmente dependente de Charles, assim, se ele fosse preso, seria a ruína. Romilda, mãe de Rita, foi inteligente. Pediu à filhinha que esquecesse o ocorrido, que não falasse para o pai, e Rita obedeceu à mãe.
Mary Lee, irmã primogênita de Rita, se apaixonava facilmente. Rita narra dois fatos engraçados. O primeiro fato: a família, classe média alta, num certo dia, estava assistindo a uma peça teatral quando Mary Lee ficou apaixonada pelo ator alemão Dieter Langer, alto, lindo e loiro. As meninas foram assistir à peça por 3 vezes, por insistência da irmã Mary, que queria pedir um autógrafo ao ator. Depois do espetáculo, Mary correu à procura do belo ator e teve uma grande decepção: viu o homem lindo beijando na boca outro ator. Acabou-se a paixão de Mary. O segundo fato: Mary ficou apaixonada por um belo jovem chamado Bernard, que fazia tratamento odontológico com o pai dela e era coroinha na igreja que ela frequentava com sua mãe. Bernard, loiro e lindo. Mary Lee teve também outra decepção: o belo coroinha fugiu com o padre, que abandonou o sacerdócio. E os dois desapareceram da cidade.
Interessante! Mary Lee ficou apaixonada por 2 homens, sem perceber que eram gays. E mais uma surpresa desagradável muitos anos depois. Mary havia se formado em Letras pela Universidade Mackenzie e estava trabalhando na firma inglesa Atlantis. Começou o namoro com seu chefe, Brian William, um inglês bonito, educadíssimo, muito inteligente, extremamente admirado pela família de Mary. E aí o casamento. A festa foi realizada no casarão da família, depois, os recém-casados partiram de navio para a Inglaterra. Na volta ao Brasil, foram morar num apartamento, no mesmo bairro da família, na Vila Mariana. Anos depois, Mary Lee andava muito triste. Queria um filho, queria dar um neto para seus pais, porém, nada. Num dia, ela criou coragem e revelou para sua mãe o sofrimento que vinha enfrentando. O esposo inglês bonito, Brian William, que a família adorava tanto, era gay, não cumpria com suas obrigações sexuais, mesmo assim, Mary não o abandonou. Ela, profundamente infeliz, não aguentou, sofreu um AVC (acidente vascular cerebral) fulminante, falecendo com apenas 37 anos de idade. Após sua morte, Brian desocupou a casa, levando todos os pertences de Mary, e sumiu com um caminhoneiro chamado Carlos.
“OVELHA NEGRA
Levava uma vida sossegada
Gostava de sombra e água fresca
Meu Deus quanto tempo eu passei sem saber
Foi quando meu pai me disse
Filha, você é a ovelha negra da família
Agora é hora de você assumir e sumir”
A infância de Rita foi muito feliz. Ela e a irmã Virgínia eram as mais danadinhas, inquietas, sempre aprontando. O divertimento da família, nos fins de semana, se resumia em idas à cidade de Rio Claro, no estado de São Paulo, onde moravam os avós maternos e tios, muito ricos, e visitas à floresta do Ibirapuera, que não era parque ainda. Num certo dia, Charles, o pai, que tinha um consultório odontológico, chegou ao casarão muito animado porque havia ganhado mais uma paciente famosa, Magdalena Tagliaferro, a maior pianista brasileira da época. Foi feito um acordo: Charles faria o tratamento odontológico em troca de aulas de piano para a filha caçula, Rita Lee, que estava com 5 ou 6 anos de idade. E assim foi feito. Meses depois, a menina Rita Lee estava participando de uma audição na Escola de Piano Tagliaferro. Quando subiu ao palco, sentando-se no banco diante do piano, o desastre: nervosa, desesperada, mijou no banco. Nada tocou, deu um branco. Depois, Rita ficou sabendo que a pianista Magdalena havia dito à Romilda, sua mãe, que a filha tinha medo do palco e que seria melhor desistir da música.
No primário, dona Lourdes, uma gorduchinha enérgica, foi sua professora. Seu pai, Charles, queria a melhor educação para as filhas, por isso as matriculou, no ginasial, em escolas de grande nível, indo Rita Lee para a famosa escola francesa Liceu Pasteur, onde passou a integrar a equipe feminina de handebol. Nesse colégio, montou um quarteto exclusivamente de mulheres chamado As teenage Singers, com Rita na bateria. As festinhas ocorriam à noite e, para participar delas, Rita aguardava seu pai ir para a cama, saindo pela janela de seu quarto. Numa noite, acidentou-se quando tocava bateria. Ligaram para a casa de seus pais, e Charles, de Jipe, levou a filha ao Hospital Samaritano. Descobriu que a filha tocava bateria, saindo, às noites, para as festas. Nada disse à Rita. No dia seguinte, chegou ao casarão com um presente: um violão Del Vecchio. Pediu à filha que abandonasse a bateria por causa do barulho. Tempos depois, após concluir o ginasial, Rita pediu ao pai uma bateria. Ele comprou a bateria e outros instrumentos, mas pediu à filha que não tocasse dentro do casarão. Com os instrumentos, Rita e as 3 amigas do quarteto As teenage Singers ficaram empolgadas e passaram a fazer apresentações gratuitas. Dinheiro, nada! Virgínia, irmã, conseguiu um emprego na firma onde trabalhava a outra irmã, Mary, que havia se casado, sem saber, com o gay inglês Brian William. Vendo as irmãs tomarem um rumo, Rita disse ao pai que ia procurar um emprego para se sentir mais útil. Conseguiu! Recepcionista num escritório. Na primeira semana de trabalho, tudo bem. Na segunda, um desastre: Rita, sem querer, derrubou um copo de café sobre um armário importante, molhando documentos vários. Foi demitida na hora. Mentiu para os pais, dizendo que saíra do emprego porque o salário era absurdo. Entrou num curso de datilografia. Paralelamente a tudo isso, continuava tocando com as 3 meninas do grupo, em apresentações colegiais. Em seguida, foi formado um novo grupo com o nome Wooden, composto por 9 pessoas: Rita, as 3 amigas, e 5 rapazes: Cláudio, Arnaldo, Serginho, Raphael e Tobé. Todavia, por causa de brigas, o grupo logo chegou ao fim, restando apenas 6 integrantes, passando a se chamar O’Seis. Novamente brigas e mais brigas, outra separação. Restaram apenas 3 (Arnaldo, Sérgio e Rita Lee), passando o grupo a se chamar Os Bruxos. Arnaldo e Rita passaram a namorar quando o grupo ainda se chamava O’Seis, primeiro namorado e, mais à frente, primeiro esposo. Durante as apresentações do grupo em bares e colégios, Rita já era estudante de Comunicação na USP (Universidade de São Paulo), na mesma classe frequentada por Regina Duarte, que, mais tarde, seria a grande atriz. Depois, o trio Os Bruxos teve uma grande alegria. O cantor Ronnie Von apresentava um programa na TV RECORD e convidou o trio para comparecer lá. Antes, porém, queria conversar com os 3 em sua mansão no Morumbi, onde morava com a esposa Aretusa. Foram bem recebidos e, depois do jantar, Ronnie deu uma sugestão ao grupo: que mudasse o nome Os Bruxos para Os Mutantes, no que foi atendido. Em 15 de outubro de 1966, Rita com 18 anos, Os Mutantes aparecem no programa. No ano seguinte (1967), o maestro Chiquinho de Morais convida o grupo para um backing vocal numa gravação de Nana Caymmi, que concorreria para o festival de música naquele ano, na TV RECORD. Quando o trio estava no estúdio, ensaiando, apareceu o jovem Gilberto Gil, que convidou os 3 a acompanhá-lo, no festival, com a canção Domingo no Parque. Deu tudo certo! As imagens estão no You Tube, basta digitar festival de 1967, TV RECORD, canção Domingo no Parque para ver Gilberto Gil acompanhado pelo trio Os Mutantes, Rita Lee com apenas 19 anos. Nesse festival, o cantor Sérgio Ricardo, bastante vaiado, com raiva, quebra o violão, atirando-o contra o público.
“JOSÉ
Olha o que foi, meu bom José
Se apaixonar pela donzela
Entre todas, a mais bela
De toda a sua Galileia
Casar com Débora ou com Sara
Meu bom José, você podia
E nada disso acontecia
Mas você foi amar Maria
Você podia simplesmente
Ser carpinteiro e trabalhar
Sem nunca ter que se exilar
De se esconder com Maria
Algum tempo depois, Gilberto Gil e Caetano Veloso se mudaram para São Paulo, dois belos apartamentos na Avenida São Luís, frequentados diariamente por Rita. A coisa começou a mudar. Surgiu o convite para o primeiro LP por parte da gravadora Phillips, com Rita recorrendo aos amigos baianos e ao cantor Jorge Ben. Saiu o disco, sem sucesso, que foi quebrado por Flávio Cavalcanti, em seu programa de tv. Em seguida, mais um festival de música na TV Excelsior. O trio concorreu, mas não foi classificado. Em seguida, outro festival de música, no Maracanãzinho, no Rio. Pela primeira vez, Rita conheceu a cidade maravilhosa, e o trio conseguiu a 7ª colocação. E aí começou a aparecer dinheiro. A poderosa SHELL contratou o trio para propagandas. Na sequência, um convite para o trio participar do Festival do MIDEM, em Cannes, na França. Primeira viagem de avião. Sonho realizado. De volta ao Brasil, o trio recebe o convite para uma temporada na Boate Sucata, no Rio, acompanhando Gil e Caetano. Rita pede a Gilberto Gil que vá ao casarão para convencer o pai dela a aceitar a decisão de seguir o caminho da música. Gilberto vai lá e disse a Charles que sua filha Rita tinha dom para a música, que seria conveniente para ela abandonar o curso universitário Comunicação para seguir o novo caminho. Disse também que ele, Gilberto, era executivo na empresa Gessy Lever, tendo pedido demissão para seguir a carreira de músico e que, como cantor, ganhava muito mais. Com esse discurso de Gil, o pai de Rita ficou conformado.
O show na Boate Sucata foi por água abaixo. Plena ditadura militar. A boate estava lotada quando a polícia entrou para prender Gil e Caetano, depois de eles cantarem o Hino Nacional, enrolados na Bandeira, vestidos de mulher. Os dois foram presos e expulsos do país com destino à Inglaterra. Rita se sentiu órfã, sem os dois protetores. Tempo depois, o trio Os Mutantes chegou ao fim, com Rita tentando a carreira solo. No casarão, com a família, recebeu uma ligação de André Midani, um figurão da gravadora Phillips. Por contrato, Rita cantou sozinha, lançando o primeiro disco, mas, em seguida, a banda voltou, com o retorno de Arnaldo. Para tranquilizar sua mãe, dona Romilda, casou-se no cível com Arnaldo, indo morar numa casa, na Cantareira. E aí o segundo disco solo, mesmo já integrada ao grupo. E aí aconteceu o imprevisto. Arnaldo, seu próprio marido, integrante da banda Os Mutantes, expulsou Rita. Ela disse que uma cuspida no rosto seria menos humilhante. Essa raiva do marido talvez tivesse como causa o fato de Rita ter gravado sozinha 2 discos. Rita retornou humilhada ao casarão de seus pais.
Antes de pensar no que fazer, decidiu viajar à Inglaterra a fim de visitar Gil e Caetano, que estavam exilados por força da ditadura. Foi primeiramente à casa de Caetano. Tocou a campainha, e uma mulher abriu a porta: Norma Bengell, que, mais tarde, se tornaria uma grande atriz. Norma, enfurecida com Rita, começou a agredi-la verbalmente, dizendo que ela era uma imperialista traidora. Rita ficou sem entender o porquê da raiva. Saiu dali e foi à casa de Gilberto Gil. Tocou a campainha e o próprio Gilberto abriu a porta com um largo sorriso. Pediu que Rita entrasse e foi aquela festa.
Já que estava em Londres, Rita aproveitou a ocasião para praticar um furto. Entrou na famosa Butique Biba. Quando estava experimentando um par de botas prateadas, lindo e caríssimo, pediu à atendente que trouxesse um par com um número maior. Quando a atendente foi buscar outro par, Rita fugiu com o par de botas. Retornando ao Brasil, ao casarão dos pais, formou a banda “Tutti Frutti”. A estreia do grupo foi no Teatro Ruth Escobar, mas no porão. Acabada a temporada no Ruth Escobar, eles se mudaram para o Rio. Depois de alguns meses, retorno a São Paulo. Já que Rita gritava muito durante os shows, ficando rouca por muitos dias, descobriu que possuía calos nas cordas vocais, tendo se submetido à cirurgia, em Belo Horizonte. Depois, até que enfim, o sucesso do grupo, com o lançamento do disco Fruto Proibido, gravado no estúdio Eldorado, na Rua Major Quedinho, no centro de São Paulo, destacando-se, principalmente, a canção Ovelha Negra, entre outras: “Esse tal de roquenrou”, “Agora só falta você”, “Dançar pra não dançar” etc. Sucesso nacional! Fama e dinheiro aparecendo.
Num dia qualquer, Rita estava em seu sobradinho, perto do casarão dos pais, e quem aparece? Sim, ele mesmo, o Arnaldo, seu ex-marido que a havia expulsado do grupo Os Mutantes. Ela nunca esqueceu a humilhação. O ex estava só o bagaço, magro e depressivo. Disse a ela que havia adquirido uma doença desagradável e pediu para dormir lá somente uma noite. Pela manhã, pediu o Jeep por empréstimo e saiu. De madrugada, telefonou para Rita, dizendo que havia batido o carro, perda total. Rita ficou enfurecida. Meses depois, em agosto de 1976, na estreia do show Entradas e Bandeiras, no Teatro Aquarius, no palco, Rita avista o ex, com a maior cara de pau, balançando o polegar para baixo e fazendo cara de nojo, dando a entender que não estava gostando da performance de Rita. Como diz o ditado popular, inveja mata. Anos depois, já casada com Roberto de Carvalho e com 3 filhos, morando numa bela casa em Cantareira, Rita viu um mendigo subindo a rampa da garagem. Ele mesmo, o ex, de novo: barbudo, cabeludo e maltrapilho. Ele disse a ela que havia alugado uma casa bem próxima, que estava vivendo com uma mulher. Dias depois, ele tocou fogo na casa e desapareceu. Rita foi lá e ficou assombrada com o que viu. A única coisa que existia na casa era um colchão, no chão e queimado. Depois ficou sabendo que a mãe de Arnaldo o havia internado numa clínica para dependentes químicos depois de ele ter ateado fogo no piano de cauda.
Como Rita Lee conheceu seu segundo marido, Roberto de Carvalho, com quem viveria feliz até os últimos dias de sua vida? Graças ao cantor Ney Matogrosso! A amizade de Rita e Ney começou num festival em Saquarema, e o guitarrista da banda de Ney era justamente Roberto de Carvalho. Quando Rita o viu, ficou caída por ele. Inteligente, convidou Ney Matogrosso para um jantar em sua casa, podendo levar alguns músicos. Ney levou apenas o Roberto. E começou aí o romance entre Rita e Roberto, que só chegou ao fim com a morte dela. E foi o começo também da parceria musical.
Fato marcante também foi o dia da prisão de Rita por porte de maconha. Policiais entraram em seu domicílio, à procura de drogas. Rita não consumia drogas há bastante tempo, principalmente, naquela ocasião, quando estava grávida. Roberto ainda não sabia que o filho era seu. Rita diz que os policiais “plantaram” a maconha encontrada, ou seja, eles levaram maconha, jogando-a no apartamento de Rita. Conduzida à delegacia, ficou presa. Passou uma semana no DEIC, sendo transferida para o Hipódromo Feminino, onde permaneceu por um mês e meio. No presídio, foi bem recebida pelas detentas que pediam músicas, e Rita, com o violão, cantava canções de Elvis Presley e sua Ovelha Negra. Certo dia, ainda no cárcere, grávida, sentiu cólicas fortes e um sangramento vaginal, percebendo que estava diante de um possível aborto. Pediu ao delegado um médico, mas não foi atendida. E aí aparece uma cantora famosa para salvar Rita: Elis Regina! Elis exigiu que o delegado autorizasse a entrada de um médico, do contrário faria o maior escândalo. Deu certo! Um médico foi chamado, e Rita foi atendida. Cólicas e sangramento desapareceram. Depois, o julgamento: Rita foi condenada a 1 ano de prisão domiciliar, tendo ficado, por causa da gravidez, no casarão da família, sob a vigilância de um policial, que dava plantão no portão. Roberto de Carvalho sempre presente, já sabendo que ela estava aguardando um filho seu.
Após a prisão, Rita voltou aos shows, com total sucesso. O show no Ginásio do Palmeiras se tornou o maior público até então. Num show em Ribeirão Preto, na Cava do Bosque, o palco foi invadido pelo público, arrancando até pedaços da roupa dela, mas ela continuou cantando, mesmo com a barriga da gravidez à mostra. Foi alçada ao posto de maior estrela do Rock brasileiro.
Com 7 meses e meio de gravidez, devido a problemas com os batimentos cardíacos do bebê, foi obrigada a enfrentar um parto cesariano, no Hospital Albert Einstein. Roberto Lee, o primeiro filho, nasceu com saúde. O segundo filho, João Lee, nasceu no sétimo mês de gravidez, também um parto cesariano, com uma leve depressão na testa, que foi corrigida por meio de uma cirurgia. E, por último, o terceiro filho, Antônio Lee, que nasceu no nono mês de gravidez, também parto cesariano. Anos depois, Charles, seu querido pai, faleceu. Em seguida, sua irmã Mary.
Rita, com muita inspiração, passou a escrever livros infantis, que estão à venda, por exemplo, no Amazon. Quando lançou o primeiro volume, a criançada fez filas enormes que davam voltas no prédio da Bienal, em São Paulo. Em seguida, mais uma perda familiar: a morte de sua querida mãe, Romilda.
Rita foi uma mulher autêntica, honesta consigo própria, jamais escondeu sujeiras debaixo do tapete. Em todo o livro, revela aos leitores seus problemas com drogas e álcool. Principalmente, no início e na parte intermediária de sua carreira, usava cocaína, LSD e maconha. Ela narra acerca de dois episódios, envolvendo cocaína. Numa certa ocasião, voltando ao hotel depois de um show, recebe uma ligação. Um hóspede famoso liga para ela, convidando-a para uma fileira de cocaína. O hóspede famoso era o fantástico cantor Nelson Gonçalves. O outro caso ocorreu no meio da temporada carioca do show Fruto Proibido, no Teatro João Caetano, no Rio, quando, em seu camarim, apareceu um amigo, filho de um desembargador, trazendo meio quilo de cocaína, que foi consumido pelos dois, durante 3 dias, num quarto de hotel. E ela comunica que essa foi a última vez que fez uso de cocaína, continuando com a maconha. Após sua união com Roberto de Carvalho e o nascimento dos 3 filhos, ficou distante das drogas, mas continuou imersa no alcoolismo. Foram sucessivas internações, por causa do álcool, em clínicas, chamadas por Rita de hospícios.
Ao longo de sua vida, passou por muitos problemas de saúde. Aos seis anos, operou as amígdalas. Ainda criança, certa vez, caiu de um muro, quebrando os pés. Em outra ocasião, ao suspender uma janela, quebrou o polegar direito. Em outro momento, levou dois pontos nas nádegas por causa da mordida de um cão. Aos quinze anos, rolou pela escada, deslocando os quadris. No início da carreira, cirurgia nas cordas vocais. E o pior acidente ocorreu quando já era famosa e com a vida financeira tranquila. Comprou à vista uma linda casa, no meio do mato, perto de Caucaia do Alto, a duzentos quilômetros de São Paulo. Ali, estando sozinha, vivia à base de bebidas alcoólicas quando ocorreu a tragédia. Caiu da varanda, altura de quinze metros, desmaiando, tendo sido vista pelo caseiro somente no raiar do dia. Sofreu lesões graves em todo o rosto. 12 horas no centro cirúrgico e 3 meses com a cabeça enfaixada. Recuperou-se.
Quando nasceu Ziza, neta, filha do primeiro filho Roberto, Rita prometeu a si mesma abandonar o último inimigo, o alcoolismo. E cumpriu. Em maio de 2021, com 73 anos, ao realizar um exame de saúde de rotina, foi diagnosticada com um tumor primário no pulmão esquerdo. O câncer entrou em processo de metástase, e ela foi submetida a sessões de quimioterapia. Em 8 de maio de 2023, faleceu cercada por sua família. A pedido dela, seu corpo foi cremado.