domingo, 25 de maio de 2025

NOSSA INESQUECÍVEL RITA LEE

                                      RITA LEE JONES, filha de Charles Fenley Jones e Romilda Padula, nasceu, em São Paulo, no dia 31 de dezembro de 1947, e faleceu, na mesma cidade, em 8 de maio de 2023. O LEE de Rita não é sobrenome de família. Seu pai, Charles, o colocou nas 3 filhas (Mary, Virgínia e Rita) em homenagem ao general confederado norte-americano Robert Edward Lee.


“MANIA DE VOCÊ

Meu bem, você me dá água na boca

Vestindo fantasias, tirando a roupa

Molhada de suor

De tanto a gente se beijar

De tanto imaginar loucuras

A gente faz amor por telepatia

No chão, no mar, na lua, na melodia”


Seu pai, nascido em Santa Bárbara d’Oeste, no estado de São Paulo, era filho de imigrantes norte-americanos, maçom e formado em Odontologia, com consultório odontológico instalado na Rua Xavier de Toledo, 98, capital. Sua mãe era filha de imigrantes italianos, extremamente católica. 

A família morava num casarão dos anos 1920, na Rua Joaquim Távora, 670, na Vila Mariana. O casal teve 3 filhas: Mary Lee Jones, Virgínia Lee Jones e Rita Lee Jones, a caçula. Além delas, moravam lá 2 mulheres: Luíza Rodrigues e Carolina Saccomano, que eram consideradas como filhas. 

Um fato ruim ocorrido com Rita Lee, com apenas 5 ou 6 anos de idade, merece relevo aqui. A perda de sua virgindade! Ocorreu assim: num certo dia, a máquina de costura de sua mãe pifou. Foi chamado um técnico de uma firma. Quando ele estava consertando a máquina, o telefone tocou, e a mãe de Rita foi atender a ligação em outro ambiente da casa. Nesse curto tempo, o desgraçado do técnico enfiou o cabo de uma chave de fenda na vagina da pobre criança, e saiu correndo. A mãe de Rita, desesperada, controlou-se. Não levou a criança ao hospital, conseguindo retirar o cabo da chave de fenda, mesmo com a saída de uma gosma vermelha. Ela não levou o fato ao conhecimento da polícia por uma razão bem simples: se o esposo Charles, pai de Rita, soubesse, com certeza mataria o técnico. A família composta por 6 mulheres era totalmente dependente de Charles, assim, se ele fosse preso, seria a ruína. Romilda, mãe de Rita, foi inteligente. Pediu à filhinha que esquecesse o ocorrido, que não falasse para o pai, e Rita obedeceu à mãe. 

Mary Lee, irmã primogênita de Rita, se apaixonava facilmente. Rita narra dois fatos engraçados. O primeiro fato: a família, classe média alta, num certo dia, estava assistindo a uma peça teatral quando Mary Lee ficou apaixonada pelo ator alemão Dieter Langer, alto, lindo e loiro. As meninas foram assistir à peça por 3 vezes, por insistência da irmã Mary, que queria pedir um autógrafo ao ator. Depois do espetáculo, Mary correu à procura do belo ator e teve uma grande decepção: viu o homem lindo beijando na boca outro ator. Acabou-se a paixão de Mary. O segundo fato: Mary ficou apaixonada por um belo jovem chamado Bernard, que fazia tratamento odontológico com o pai dela e era coroinha na igreja que ela frequentava com sua mãe. Bernard, loiro e lindo. Mary Lee teve também outra decepção: o belo coroinha fugiu com o padre, que abandonou o sacerdócio. E os dois desapareceram da cidade. 

Interessante! Mary Lee ficou apaixonada por 2 homens, sem perceber que eram gays. E mais uma surpresa desagradável muitos anos depois. Mary havia se formado em Letras pela Universidade Mackenzie e estava trabalhando na firma inglesa Atlantis. Começou o namoro com seu chefe, Brian William, um inglês bonito, educadíssimo, muito inteligente, extremamente  admirado pela família de Mary. E aí o casamento. A festa foi realizada no casarão da família, depois, os recém-casados partiram de navio para a Inglaterra. Na volta ao Brasil, foram morar num apartamento, no mesmo bairro da família, na Vila Mariana. Anos depois, Mary Lee andava muito triste. Queria um filho, queria dar um neto para seus pais, porém, nada. Num dia, ela criou coragem e revelou para sua mãe o sofrimento que vinha enfrentando. O esposo inglês bonito, Brian William, que a família adorava tanto, era gay, não cumpria com suas obrigações sexuais, mesmo assim, Mary não o abandonou. Ela, profundamente infeliz, não aguentou, sofreu um AVC (acidente vascular cerebral) fulminante, falecendo com apenas 37 anos de idade. Após sua morte, Brian desocupou a casa, levando todos os pertences de Mary, e sumiu com um caminhoneiro chamado Carlos. 


“OVELHA NEGRA

Levava uma vida sossegada

Gostava de sombra e água fresca

Meu Deus quanto tempo eu passei sem saber

Foi quando meu pai me disse

Filha, você é a ovelha negra da família

Agora é hora de você assumir e sumir”


A infância de Rita foi muito feliz. Ela e a irmã Virgínia eram as mais danadinhas, inquietas, sempre aprontando. O divertimento da família, nos fins de semana, se resumia em idas à cidade de Rio Claro, no estado de São Paulo, onde moravam os avós maternos e tios, muito ricos, e visitas à floresta do Ibirapuera, que não era parque ainda. Num certo dia, Charles, o pai, que tinha um consultório odontológico, chegou ao casarão muito animado porque havia ganhado mais uma paciente famosa, Magdalena Tagliaferro, a maior pianista brasileira da época. Foi feito um acordo: Charles faria o tratamento odontológico em troca de aulas de piano para a filha caçula, Rita Lee, que estava com 5 ou 6 anos de idade. E assim foi feito. Meses depois, a menina Rita Lee estava participando de uma audição na Escola de Piano Tagliaferro. Quando subiu ao palco, sentando-se no banco diante do piano, o desastre: nervosa, desesperada, mijou no banco. Nada tocou, deu um branco. Depois, Rita ficou sabendo que a pianista Magdalena havia dito à Romilda, sua mãe, que a filha tinha medo do palco e que seria melhor desistir da música.

No primário, dona Lourdes, uma gorduchinha enérgica, foi sua professora. Seu pai, Charles, queria a melhor educação para as filhas, por isso as matriculou, no ginasial, em escolas de grande nível, indo Rita Lee para a famosa escola francesa Liceu Pasteur, onde passou a integrar a equipe feminina de handebol. Nesse colégio, montou um quarteto exclusivamente de mulheres chamado As teenage Singers, com Rita na bateria. As festinhas ocorriam à noite e, para participar delas, Rita aguardava seu pai ir para a cama, saindo pela janela de seu quarto. Numa noite, acidentou-se quando tocava bateria. Ligaram para a casa de seus pais, e Charles, de Jipe, levou a filha ao Hospital Samaritano. Descobriu que a filha tocava bateria, saindo, às noites, para as festas. Nada disse à Rita. No dia seguinte, chegou ao casarão com um presente: um violão Del Vecchio. Pediu à filha que abandonasse a bateria por causa do barulho. Tempos depois, após concluir o ginasial, Rita pediu ao pai uma bateria. Ele comprou a bateria e outros instrumentos, mas pediu à filha que não tocasse dentro do casarão. Com os instrumentos, Rita e as 3 amigas do quarteto As teenage Singers ficaram empolgadas e passaram a fazer apresentações gratuitas. Dinheiro, nada! Virgínia, irmã, conseguiu um emprego na firma onde trabalhava a outra irmã, Mary, que havia se casado, sem saber, com o gay inglês Brian William. Vendo as irmãs tomarem um rumo, Rita disse ao pai que ia procurar um emprego para se sentir mais útil. Conseguiu! Recepcionista num escritório. Na primeira semana de trabalho, tudo bem. Na segunda, um desastre: Rita, sem querer, derrubou um copo de café sobre um armário importante, molhando documentos vários. Foi demitida na hora. Mentiu para os pais, dizendo que saíra do emprego porque o salário era absurdo. Entrou num curso de datilografia. Paralelamente a tudo isso, continuava tocando com as 3 meninas do grupo, em apresentações colegiais. Em seguida, foi formado um novo grupo com o nome Wooden, composto por 9 pessoas: Rita, as 3 amigas, e 5 rapazes: Cláudio, Arnaldo, Serginho, Raphael e Tobé. Todavia, por causa de brigas, o grupo logo chegou ao fim, restando apenas 6 integrantes, passando a se chamar O’Seis. Novamente brigas e mais brigas, outra separação. Restaram apenas 3 (Arnaldo, Sérgio e Rita Lee),  passando o grupo a se chamar Os Bruxos. Arnaldo e Rita passaram a namorar quando o grupo ainda se chamava O’Seis, primeiro namorado e, mais à frente,  primeiro esposo. Durante as apresentações do grupo em bares e colégios, Rita já era estudante de Comunicação na USP (Universidade de São Paulo), na mesma classe frequentada por Regina Duarte, que, mais tarde, seria a grande atriz. Depois, o trio Os Bruxos teve uma grande alegria. O cantor Ronnie Von apresentava um programa na TV RECORD e convidou o trio para comparecer lá. Antes, porém, queria conversar com os 3 em sua mansão no Morumbi, onde morava com a esposa Aretusa. Foram bem recebidos e, depois do jantar, Ronnie deu uma sugestão ao grupo: que mudasse o nome Os Bruxos para Os Mutantes, no que foi atendido. Em 15 de outubro de 1966, Rita com 18 anos, Os Mutantes aparecem no programa. No ano seguinte (1967), o maestro Chiquinho de Morais convida o grupo para um backing vocal numa gravação de Nana Caymmi, que concorreria para o festival de música naquele ano, na TV RECORD. Quando o trio estava no estúdio, ensaiando, apareceu o jovem Gilberto Gil, que convidou os 3 a acompanhá-lo, no festival, com a canção Domingo no Parque. Deu tudo certo! As imagens estão no You Tube, basta digitar festival de 1967, TV RECORD, canção Domingo no Parque para ver Gilberto Gil acompanhado pelo trio Os Mutantes, Rita Lee com apenas 19 anos. Nesse festival, o cantor Sérgio Ricardo, bastante vaiado, com raiva, quebra o violão, atirando-o contra o público. 


“JOSÉ

Olha o que foi, meu bom José

Se apaixonar pela donzela

Entre todas, a mais bela

De toda a sua Galileia


Casar com Débora ou com Sara

Meu bom José, você podia

E nada disso acontecia

Mas você foi amar Maria


Você podia simplesmente

Ser carpinteiro e trabalhar

Sem nunca ter que se exilar

De se esconder com Maria


Algum tempo depois, Gilberto Gil e Caetano Veloso se mudaram para São Paulo, dois belos apartamentos na Avenida São Luís, frequentados diariamente por Rita. A coisa começou a mudar. Surgiu o convite para o primeiro LP por parte da gravadora Phillips, com Rita recorrendo aos amigos baianos e ao cantor Jorge Ben. Saiu o disco, sem sucesso, que foi quebrado por Flávio Cavalcanti, em seu programa de tv. Em seguida, mais um festival de música na TV Excelsior. O trio concorreu, mas não foi classificado. Em seguida, outro festival de música, no Maracanãzinho, no Rio. Pela primeira vez, Rita conheceu a cidade maravilhosa, e o trio conseguiu a 7ª colocação. E aí começou a aparecer dinheiro. A poderosa SHELL contratou o trio para propagandas. Na sequência, um convite para o trio participar do Festival do MIDEM, em Cannes, na França. Primeira viagem de avião. Sonho realizado. De volta ao Brasil, o trio recebe o convite para uma temporada na Boate Sucata, no Rio, acompanhando Gil e Caetano. Rita pede a Gilberto Gil que vá ao casarão para convencer o pai dela a aceitar a decisão de seguir o caminho da música. Gilberto vai lá e disse a Charles que sua filha Rita tinha dom para a música, que seria conveniente para ela abandonar o curso universitário Comunicação para seguir o novo caminho. Disse também que ele, Gilberto, era executivo na empresa Gessy Lever, tendo pedido demissão para seguir a carreira de músico e que, como cantor, ganhava muito mais. Com esse discurso de Gil, o pai de Rita ficou conformado. 

O show na Boate Sucata foi por água abaixo. Plena ditadura militar. A boate estava lotada quando a polícia entrou para prender Gil e Caetano, depois de eles cantarem o Hino Nacional, enrolados na Bandeira, vestidos de mulher. Os dois foram presos e expulsos do país com destino à Inglaterra. Rita se sentiu órfã, sem os dois protetores. Tempo depois, o trio Os Mutantes chegou ao fim, com Rita tentando a carreira solo. No casarão, com a família, recebeu uma ligação de André Midani, um figurão da gravadora Phillips. Por contrato,  Rita cantou sozinha, lançando o primeiro disco, mas, em seguida, a banda voltou, com o retorno de Arnaldo. Para tranquilizar sua mãe, dona Romilda, casou-se no cível com Arnaldo, indo morar numa casa, na Cantareira. E aí o segundo disco solo, mesmo já integrada ao grupo. E aí aconteceu o imprevisto. Arnaldo, seu próprio marido, integrante da banda Os Mutantes, expulsou Rita. Ela disse que uma cuspida no rosto seria menos humilhante. Essa raiva do marido talvez tivesse como causa o fato de Rita ter gravado sozinha 2 discos. Rita retornou humilhada ao casarão de seus pais. 

Antes de pensar no que fazer, decidiu viajar à Inglaterra a fim de visitar Gil e Caetano, que estavam exilados por força da ditadura. Foi primeiramente à casa de Caetano. Tocou a campainha, e uma mulher abriu a porta: Norma Bengell, que, mais tarde, se tornaria uma grande atriz. Norma, enfurecida com Rita, começou a agredi-la verbalmente, dizendo que ela era uma imperialista traidora. Rita ficou sem entender o porquê da raiva. Saiu dali e foi à casa de Gilberto Gil. Tocou a campainha e o próprio Gilberto abriu a porta com um largo sorriso. Pediu que Rita entrasse e foi aquela festa. 

Já que estava em Londres, Rita aproveitou a ocasião para praticar um furto. Entrou na famosa Butique Biba. Quando estava experimentando um par de botas prateadas, lindo e caríssimo, pediu à atendente que trouxesse um par com um número maior. Quando a atendente foi buscar outro par, Rita fugiu com o par de botas. Retornando ao Brasil, ao casarão dos pais, formou a banda “Tutti Frutti”. A estreia do grupo foi no Teatro Ruth Escobar, mas no porão. Acabada a temporada no Ruth Escobar, eles se mudaram para o Rio. Depois de alguns meses, retorno a São Paulo. Já que Rita gritava muito durante os shows, ficando rouca por muitos dias, descobriu que possuía calos nas cordas vocais, tendo se submetido à cirurgia, em Belo Horizonte. Depois, até que enfim, o sucesso do grupo, com o lançamento do disco Fruto Proibido, gravado no estúdio Eldorado, na Rua Major Quedinho, no centro de São Paulo, destacando-se, principalmente, a canção Ovelha Negra, entre outras: “Esse tal de roquenrou”, “Agora só falta você”, “Dançar pra não dançar” etc. Sucesso nacional! Fama e dinheiro aparecendo. 

Num dia qualquer, Rita estava em seu sobradinho, perto do casarão dos pais, e quem aparece? Sim, ele mesmo, o Arnaldo, seu ex-marido que a havia expulsado do grupo Os Mutantes. Ela nunca esqueceu a humilhação. O ex estava só o bagaço, magro e depressivo. Disse a ela que havia adquirido uma doença desagradável e pediu para dormir lá somente uma noite. Pela manhã, pediu o Jeep por empréstimo e saiu. De madrugada, telefonou para Rita, dizendo que havia batido o carro, perda total. Rita ficou enfurecida. Meses depois, em agosto de 1976, na estreia do show Entradas e Bandeiras, no Teatro Aquarius, no palco, Rita avista o ex, com a maior cara de pau, balançando o polegar para baixo e fazendo cara de nojo, dando a entender que não estava gostando da performance de Rita. Como diz o ditado popular, inveja mata. Anos depois, já casada com Roberto de Carvalho e com 3 filhos, morando numa bela casa em Cantareira, Rita viu um mendigo subindo a rampa da garagem. Ele mesmo, o ex, de novo: barbudo, cabeludo e maltrapilho. Ele disse a ela que havia alugado uma casa bem próxima, que estava vivendo com uma mulher. Dias depois, ele tocou fogo na casa e desapareceu. Rita foi lá e ficou assombrada com o que viu. A única coisa que existia na casa era um colchão, no chão e queimado. Depois ficou sabendo que a mãe de Arnaldo o havia internado numa clínica para dependentes químicos depois de ele ter ateado fogo no piano de cauda. 

Como Rita Lee conheceu seu segundo marido, Roberto de Carvalho, com quem viveria feliz até os últimos dias de sua vida? Graças ao cantor Ney Matogrosso! A amizade de Rita e Ney começou num festival em Saquarema, e o guitarrista da banda de Ney era justamente Roberto de Carvalho. Quando Rita o viu, ficou caída por ele. Inteligente, convidou Ney Matogrosso para um jantar em sua casa, podendo levar alguns músicos. Ney levou apenas o Roberto. E começou aí o romance entre Rita e Roberto, que só chegou ao fim com a morte dela. E foi o começo também da parceria musical.

Fato marcante também foi o dia da prisão de Rita por porte de maconha. Policiais entraram em seu domicílio, à procura de drogas. Rita não consumia drogas há bastante tempo, principalmente, naquela ocasião, quando estava grávida. Roberto ainda não sabia que o filho era seu. Rita diz que os policiais “plantaram” a maconha encontrada, ou seja, eles levaram maconha, jogando-a no apartamento de Rita. Conduzida à delegacia, ficou presa. Passou uma semana no DEIC, sendo transferida para o Hipódromo Feminino, onde permaneceu por um mês e meio. No presídio, foi bem recebida pelas detentas que pediam músicas, e Rita, com o violão, cantava canções de Elvis Presley e sua Ovelha Negra. Certo dia, ainda no cárcere, grávida, sentiu cólicas fortes e um sangramento vaginal, percebendo que estava diante de um possível aborto. Pediu ao delegado um médico, mas não foi atendida. E aí aparece uma cantora famosa para salvar Rita: Elis Regina! Elis exigiu que o delegado autorizasse a entrada de um médico, do contrário faria o maior escândalo. Deu certo! Um médico foi chamado, e Rita foi atendida. Cólicas e sangramento desapareceram. Depois, o julgamento: Rita foi condenada a 1 ano de prisão domiciliar, tendo ficado, por causa da gravidez, no casarão da família, sob a vigilância de um policial, que dava plantão no portão. Roberto de Carvalho sempre presente, já sabendo que ela estava aguardando um filho seu.

Após a prisão, Rita voltou aos shows, com total sucesso. O show no Ginásio do Palmeiras se tornou o maior público até então. Num show em Ribeirão Preto, na Cava do Bosque, o palco foi invadido pelo público, arrancando até pedaços da roupa dela, mas ela continuou cantando, mesmo com a barriga da gravidez à mostra. Foi alçada ao posto de maior estrela do Rock brasileiro. 

Com 7 meses e meio de gravidez, devido a problemas com os batimentos cardíacos do bebê, foi obrigada a enfrentar um parto cesariano, no Hospital Albert Einstein. Roberto Lee, o primeiro filho, nasceu com saúde. O segundo filho, João Lee, nasceu no sétimo mês de gravidez, também um parto cesariano, com uma leve depressão na testa, que foi corrigida por meio de uma cirurgia. E, por último, o terceiro filho, Antônio Lee, que nasceu no nono mês de gravidez, também parto cesariano. Anos depois, Charles, seu querido pai, faleceu. Em seguida, sua irmã Mary. 

Rita, com muita inspiração, passou a escrever livros infantis, que estão à venda, por exemplo, no Amazon. Quando lançou o primeiro volume, a criançada fez filas enormes que davam voltas no prédio da Bienal, em São Paulo. Em seguida, mais uma perda familiar: a morte de sua querida mãe, Romilda.

 Rita foi uma mulher autêntica, honesta consigo própria, jamais escondeu sujeiras debaixo do tapete. Em todo o livro, revela aos leitores seus problemas com drogas e álcool. Principalmente, no início e na parte intermediária de sua carreira, usava cocaína, LSD e maconha. Ela narra acerca de dois episódios, envolvendo cocaína. Numa certa ocasião, voltando ao hotel depois de um show, recebe uma ligação. Um hóspede famoso liga para ela, convidando-a para uma fileira de cocaína. O hóspede famoso era o fantástico cantor Nelson Gonçalves. O outro caso ocorreu no meio da temporada carioca do show Fruto Proibido, no Teatro João Caetano, no Rio, quando, em seu camarim, apareceu um amigo, filho de um desembargador, trazendo meio quilo de cocaína, que foi consumido pelos dois, durante 3 dias, num quarto de hotel. E ela comunica que essa foi a última vez que fez uso de cocaína, continuando com a maconha. Após sua união com Roberto de Carvalho e o nascimento dos 3 filhos, ficou distante das drogas, mas continuou imersa no alcoolismo. Foram sucessivas internações, por causa do álcool, em clínicas, chamadas por Rita de hospícios. 

Ao longo de sua vida, passou por muitos problemas de saúde. Aos seis anos, operou as amígdalas. Ainda criança, certa vez, caiu de um muro, quebrando os pés. Em outra ocasião, ao suspender uma janela, quebrou o polegar direito. Em outro momento, levou dois pontos nas nádegas por causa da mordida de um cão. Aos quinze anos, rolou pela escada, deslocando os quadris. No início da carreira, cirurgia nas cordas vocais. E o pior acidente ocorreu quando já era famosa e com a vida financeira tranquila. Comprou à vista uma linda casa, no meio do mato, perto de Caucaia do Alto, a duzentos quilômetros de São Paulo. Ali, estando sozinha, vivia à base de bebidas alcoólicas quando ocorreu a tragédia. Caiu da varanda, altura de quinze metros, desmaiando, tendo sido vista pelo caseiro somente no raiar do dia. Sofreu lesões graves em todo o rosto. 12 horas no centro cirúrgico e 3 meses com a cabeça enfaixada. Recuperou-se. 

Quando nasceu Ziza, neta, filha do primeiro filho Roberto, Rita prometeu a si mesma abandonar o último inimigo, o alcoolismo. E cumpriu. Em maio de 2021, com 73 anos, ao realizar um exame de saúde de rotina, foi diagnosticada com um tumor primário no pulmão esquerdo. O câncer entrou em processo de metástase, e ela foi submetida a sessões de quimioterapia. Em 8 de maio de 2023, faleceu cercada por sua família. A pedido dela, seu corpo foi cremado.  


segunda-feira, 19 de maio de 2025

NOSSO INESQUECÍVEL ERASMO CARLOS

                                      ERASMO ESTEVES, o nome de batismo. O nome artístico: Erasmo Carlos. Por que CARLOS? Em primeiro lugar, por causa de Roberto Carlos e Carlos Imperial. Em segundo lugar, por causa do significado exotérico, que Erasmo descobriu lendo um almanaque sobre ocultismo. Diz Erasmo que ali estava escrito que o nome Carlos seria dotado de energia ímpar por conter as iniciais de líderes poderosos:

C - Cristo, rei dos judeus

A - Águia, rainha das aves

R - Rosa, rainha das flores

L - Leão, rei dos animais

O - Ouro, rei dos metais

S - Sol, rei dos astros


ERASMO ESTEVES, filho de Maria Diva Esteves e Nílson Ferreira Coelho, nasceu no Rio de Janeiro em 5 de junho de 1941, falecendo na mesma cidade em 22 de novembro de 2022. O pai de Erasmo não assumiu a paternidade, e sua mãe era assistente de enfermagem do SAMDU (Serviço de Assistência Médica Domiciliar de Urgência), órgão criado pela Previdência Social. Na infância e no início da adolescência, Erasmo morava na Rua do Matoso, número 113 e depois na Vila Matoso, casa 21. Depois foram morar num quartinho alugado pelos padrinhos dela, na Rua Professor Gabizo, casa 108, Tijuca. 

Em 1956, com apenas 15 anos de idade, morando ainda na Rua Professor Gabizo, Erasmo viveu um sonho. Num domingo, quando voltava do Maracanã, após um 2 a 1 do Vasco contra o Bangu, viu o ônibus de seu time Vasco parado em frente à sua casa. Na rua, morava também o médico do Vasco, o dr. Valdir Cruz. Os jogadores estavam ali para comemorar o aniversário do médico, entre eles: Bellini, Orlando, Sabará, Vavá, Valter Marciano, Pinga e outros. Zagallo morava na mesma rua e, quando ia comprar pão na padaria, sempre acenava para o adolescente Erasmo. Quando viu seu time em sua rua, Erasmo correu para dentro de casa, pendurando na janela a bandeira do Vasco. No mesmo ano, Erasmo pediu à sua mãe que queria ser operado. Fimose. A família, muito pobre, juntou um dinheirinho e tudo deu certo. Depois da cirurgia, ele percebeu outro problema. Quando urinava, havia 2 jatos de urina, em forma de V por causa de uma pele pequena no orifício da uretra. Num dia, ele estava urinando num vestiário de um campo de futebol da várzea e, sem querer, um jato da urina atingiu um colega que mijava ao lado. Erasmo não procurou um médico. Resolveu esse problema somente muitos anos depois, um pouco antes da Jovem Guarda, numa viagem a Goiânia para trabalhar seu primeiro disco TERROR DOS NAMORADOS. Ali, ele praticou relações sexuais com uma morena muito bonita, rompendo a pele de sua uretra. Problema resolvido.

Erasmo desejava ser jogador. Jogava futebol de salão e de campo no time da Rua do Matoso. Seu sonho caiu por terra por causa de uma hérnia inguinal e problemas na coluna. Em 1957, com 16 anos, foi por consciência obrigado a arranjar algum emprego porque sua mãe ganhava um péssimo salário. O primeiro emprego: mostrador de imóveis, na Imobiliária Mendonça, que ficava na Praça da Bandeira. Erasmo pegava as chaves de alguns apartamentos para mostrá-los aos clientes. Jamais conseguiu vender algum dos imóveis. Ao contrário. Pegava as chaves de alguns apartamentos e ia para lá com os amigos a fim de beber cachaça com Coca-Cola. Foi rapidamente demitido. Trabalhar era um porre para ele. Arranjaram-lhe o segundo emprego: auxiliar de almoxarifado na Loja Demillus, na Avenida Gomes Freire. Erasmo só trabalhou um dia. Desapareceu! Veio o terceiro emprego: office-boy da Cerâmica São Caetano. Também não gostou, claro! E foi demitido rapidamente quando viu a secretária sentada no colo de um diretor no maior love. O quarto emprego: na ACESITA, um grupo siderúrgico, produção de aço. Erasmo também odiou o emprego. Num dia de trabalho, depois do almoço, estava dormindo. Demissão na hora. O quinto emprego: ajudante num escritório de advocacia, advogado Carmelo. Erasmo chegava às 8h, fazia limpeza superficial, atendia telefone e anotava recados. Saía às 18h. Depois, começou a chegar atrasado, deixando de fazer a limpeza. E, nesse tempo, conheceu Roberto Carlos, que o convidou para assistir ao vivo aos programas do Clube do Rock, que Carlos Imperial comandava na TV Tupi ao meio-dia. Erasmo foi e ficou maravilhado. Aquele era o mundo que ele queria. Quando chegou lá, viu Roberto Carlos, Wilson Simonal, Tony Tornado e outros. Após o show, foram para um apartamento sem móveis, onde ficaram bebendo, cantando e dançando rock até de madrugada. Roberto estava com a dançarina Maria Gladys. No dia seguinte, quando Erasmo chega ao trabalho, é demitido pelo advogado. Erasmo jurou para si mesmo que, a partir dali, só trabalharia com música. 

Em 1958, com apenas 17 anos, Erasmo é levado ao mundo da música por Edson Trindade, autor da bela canção Gostava tanto de você, imortalizada na voz de Tim Maia. Edson levou Erasmo para cantar no Snakes, grupo vocal formado por ele, Arlênio e China, era uma dissidência dos Sputniks, que tinha Roberto Carlos e Tim Maia em sua formação. Com o fim dos Sputniks, Tim Maia se uniu ao grupo de Erasmo. Os ensaios eram feitos na pensão do pai de Tim, seu Altivo, um casarão antigo que ficava na rua Barão de Itapagipe. Tim Maia estava com 16 anos. Nesse mesmo ano, conheceu Roberto Carlos. Erasmo, 17 anos, estava com sua mãe no quarto alugado da Rua Professor Gabizo quando alguém bateu na porta. Trindade e Arlênio estavam ali com outro jovem que queria conhecer Erasmo. O jovem era Roberto Carlos, que morava com a família no bairro Lins de Vasconcelos. Roberto, na época, imitava Elvis Presley. Pegou o violão e cantou Tutti-Frutti e Dont’be cruel, duas canções cantadas por Elvis. Roberto, antes de ir embora, pediu a Erasmo que aparecesse na televisão. Erasmo ficou extremamente feliz com esse convite. O programa Clube do Rock era apresentado na TV Tupi, e Roberto Carlos era o cantor que mais se destacava, entre outros: Wilson Simonal, Paulo Silvino, Tim Maia e outros. 



 Em 1961, com 20 anos, Erasmo estava cumprindo o serviço militar no Exército, soldado de uma unidade do 2º BIB (Batalhão de Infantaria Blindada). E aí uma grande alegria: os amigos do Snakes avisaram a Erasmo que eles iam viajar para Porto Alegre, inauguração da TV Piratini. Erasmo ficou muito feliz porque iam viajar de avião com tudo pago, inclusive hotel, mulheres e, além disso, cantar. Que maravilha! No dia da viagem, Erasmo devia estar de serviço no quartel, mas pagou a um soldado para trabalhar no lugar dele. Logo depois, Erasmo deixava o grupo. A partir de 1962, com 21 anos, passou a trabalhar com Carlos Imperial, mas como secretário particular e coordenador do seu programa de rádio. E aí o trio forte: Imperial, Roberto Carlos e Erasmo. Graças ao Imperial, Erasmo lançou o primeiro disco Eu quero twist. Em 1963, começou a parceria Roberto e Erasmo Carlos com a canção Parei na Contramão, e aí o surgimento do programa Jovem Guarda, em 1965, na TV RECORD, em São Paulo, onde Roberto e Erasmo foram morar. Fama e muito dinheiro em jogo. Sucesso total em todo o Brasil. 

Em 1967, um fato extremamente desagradável: o fim temporário da amizade de Roberto e Erasmo. Como isso ocorreu? Foi assim: Erasmo foi ao programa Show em Simonal para ser homenageado como compositor. Cantou um medley com 8 músicas e ninguém se lembrou da parceria dele com Roberto. Os créditos ficaram apenas para Erasmo. Quando Roberto soube, ficou furioso com o amigo, afastando-se dele. Durante longos meses ficaram sem dirigir a palavra para o outro. Os dois sofreram muito. Alguns meses depois, Erasmo recebe uma fita com uma melodia gravada por Roberto e um bilhete, dizendo: “Bicho, não estou mais zangado com você. Essa letra você faz em 10 minutos”. A música era Eu sou terrível. Nessa época, um fato engraçado foi a época dos carrões. Roberto havia comprado um jaguar. Ronnie Von, um Corvette. Agnaldo Rayol, um Lincoln. E Erasmo, para superar a todos, um Rolls Royce 1950. 

Nesse mesmo ano (1967), com 26 anos, Erasmo enfrenta um processo de corrupção de menores. Ele e o cantor Eduardo Araújo levaram umas meninas para a casa do Carlos Imperial. Mais tarde, a polícia do Rio pegou as meninas andando sozinhas em Copacabana. Elas, menores de idade, disseram que estavam na casa do Imperial, com Erasmo Carlos e Eduardo Araújo, numa festinha regada a álcool e sexo. Erasmo ficou um ano proibido de se apresentar em programas de tv e fazer shows no Rio. O Juizado de Menores decretou a prisão de Eduardo e Carlos Imperial, mas eles fugiram. 

Erasmo sempre deixou claro que nada rolou entre ele e sua amiga Wanderléa. Não foi por falta de vontade dele. O pai da cantora, seu Salim, sempre a protegia. Em 1968, ano do último programa Jovem Guarda, Erasmo estava no Rio, muito feliz porque ia se encontrar com a Miss Rio de Janeiro, que havia conhecido no Programa Almoço com as Estrelas, do Aerton Perlingeiro, na TV Tupi. Era uma morena belíssima, de fechar trânsito. Quando ele chegou à casa da jovem, ficou triste porque ela lhe disse que sua mãe ia junto com eles. Chegando a uma boate, lá estava Carlos Imperial, beijando loucamente uma jovem. A mãe da Miss estava achando aquilo um absurdo, uma depravação sem fim. Levantou-se da cadeira, pegou a filha e foram embora, deixando Erasmo sozinho. E a mulher disse: “Deus me livre deixar minha filha com essa corja. São todos uns animais pervertidos”.

No carnaval de 1969, com 28 anos, Erasmo conhece Narinha, que seria a mulher de sua vida, num baile, no Clube Monte Líbano, na Lagoa, no Rio, aonde chegara com Jerry Adriani. Ela estava com o cantor Taiguara, mas sempre olhando para Erasmo. Erasmo pediu o número do telefone de Scheila, irmã de Narinha. No dia seguinte, com a maior cara de pau, liga, pedindo para falar com a irmã. E aí começou o romance. Taiguara ficou para trás. Em 1970, Erasmo volta a morar no Rio de Janeiro, comprando um apartamento para sua mãe, na Rua Barata Ribeiro, em Copacabana. Aos 31 anos de idade, Erasmo ficou muito triste porque apareciam os primeiros sinais de sua calvície. Ficou apavorado. Orientado por amigos, passou nos cabelos babosa, rolha queimada e baba de mamoeiro, corte dos cabelos nas fases certas da Lua, comeu bastante fígado, cenoura e mamão, e nada. Sua mãe disse que o filho estava ficando careca porque o cérebro estava muito cansado. Erasmo, então, resolveu assumir sua calvície. 

Outro fato marcante foi o encontro de Erasmo com Ronnie Von, em 1965, numa festa de aniversário no Bairro de Fátima, no Rio. Ronnie ainda não havia se destacado no cenário musical. Os dois passaram a conversar sobre a admiração de ambos por Elvis Presley, Ray Charles, Beatles e outros. Erasmo ficou encantado com a inteligência de Ronnie, que estudava economia, pilotava aviões, não falava gírias e era filho de diplomata. Pouco tempo depois, Ronnie convidou Erasmo para visitar sua mansão, no Morumbi, São Paulo, onde morava com sua esposa, Aretusa. Erasmo ficou extasiado diante de tamanha beleza. Foi conduzido por Ronnie à belíssima sala de estar, onde havia uma cadeira Luís XV, do século XVII. Naquele instante, o telefone toca, e Ronnie vai a outro cômodo da mansão para atender a ligação, pedindo licença a Erasmo. Erasmo decide sentar-se  sobre a cadeira. Não deu outra. A cadeira se espatifou. Que vergonha! Ronnie e Aretuza ouviram o barulho e correram para a sala quando viram Erasmo no chão com os restos da valiosa cadeira. Erasmo ficou assombrado com a tranquilidade e elegância dos dois. Foi embora envergonhado. Tempos depois, recebe um recado de Ronnie Von, comunicando a ele que pode voltar à mansão porque a cadeira ficou novinha em folha. 

A história da música AMIGO, composta somente por Roberto Carlos. Em 1977, Nice,  casada com Roberto Carlos, telefonou para Narinha, esposa de Erasmo Carlos, confidenciando que Roberto havia feito uma surpresa para Erasmo. Ela não disse que a surpresa era a canção AMIGO. À noite, Roberto e Nice chegam ao apartamento de Erasmo, localizado na Avenida Vieira Souto, de frente para o mar de Ipanema, levando uma cópia da canção em fita cassete. Após o jantar, Roberto aciona o gravador. E a música invade o ambiente. Erasmo e sua esposa Narinha ficam assombrados com tamanha beleza. Roberto diz que a música foi feita para Erasmo. Narinha e Erasmo  choram de alegria. Roberto e Nice vão embora. Erasmo, gaiato, sempre dizia que Roberto era seu segundo melhor amigo. Segundo? Roberto perguntou quem era o primeiro melhor amigo de Erasmo. E ele disse que o melhor amigo dele era seu pênis porque era o símbolo de sua virilidade, o instrumento de seu prazer, que não pedia nada a ele, que não dava trabalho e que estava sempre pronto para a guerra. Roberto riu muito, perguntando a Erasmo: “Erasmo, teu piru já te emprestou dinheiro?” Erasmo respondeu com um 

não. Então Roberto lhe disse: “ah! Então eu sou o seu melhor amigo!”

O grande amigo de Erasmo, na infância, foi o Tião (Sebastião Rodrigues Maia, 

 que seria mais tarde o famoso cantor Tim Maia. Seu Altivo e dona Maria, pais de Tim Maia, possuíam uma pensão simples, vendendo comidas, sendo Tião o entregador. Ele entregava marmitas também na casa de Erasmo. E a comida demorava a chegar. Erasmo, desconfiado, passou a seguir os passos de Tião. Descobriu que Tião abria as marmitas e comia um pouco dos alimentos. Erasmo reclamou, e Tião, com raiva, corria em direção a Erasmo para enfiar-lhe um garfo. 

Em 1974, Erasmo e Narinha estiveram na Pousada do Rio Quente, em Goiás. Erasmo veio para um festival musical em Goiânia. Depois, partiram para a pousada. Adorou o parque aquático. No último dia de hospedagem, altas horas da noite, ele e Narinha entraram numa das piscinas quentes e passaram a fazer amor. Nisso, aparece um segurança determinando que eles parassem com aquela safadeza. E esse escândalo se espalhou pela imprensa em geral. Meses depois, nasceu o filho Leonardo, com o início de fabricação na pousada. 

Outro fato interessante ocorreu no aeroporto de Vitória, no estado do Espírito Santo. Em 1982, após dois shows em Aracruz e Conceição da Barra, Erasmo se desentendeu com seu amigo Alcides. E os dois passaram a trocar socos, caindo ao chão. Erasmo havia levado seus filhos Gugu e Léo, e achou que Alcides tinha sido indelicado com eles. Apareceu uma policial, dando voz de prisão a Erasmo, por perturbação da ordem. Foi algemado. Todos estavam dizendo que aquela desavença era entre amigos, que Alcides e Erasmo eram como se fossem irmãos de sangue, mas não adiantou. O próprio Alcides se oferecia para ser preso em lugar do amigo. Um oficial superior apareceu no local e ouviu as explicações de Erasmo, determinando que a algema fosse retirada e pedindo desculpas a todos. 

Em 1972, Erasmo e sua esposa Narinha foram visitar Raul Seixas, em seu apartamento, na Fonte da Saudade, juntinho da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio. Foi recebido por Raul, com muita alegria, que lhe apresentou a esposa Glória Vaquer, uma americana simpática. Raul disse a Erasmo que era apaixonado pelo rei Elvis Presley, e presenteou a ele um disco de Elvis, escrevendo, na capa, uma longa dedicatória que Erasmo nunca conseguiu desvendar por causa das letras incompreensíveis. 

Em 1985, a separação do casal Erasmo e Narinha. No dia 26 de dezembro de 1995, a morte dela. Suicídio. Em fevereiro de 2004, faleceu sua mãe, dona Diva, câncer nos seios. Antes, um derrame a condenou a uma cadeira de rodas. No dia 22 de novembro de 2022, com 81 anos, faleceu Erasmo, no Hospital Barra Dor, na Tijuca, um dia após ser internado. A causa da morte foi uma paniculite complicada por sepse de origem cutânea. Paniculite é a inflamação da camada de gordura que fica abaixo da pele, podendo, em caso grave, levar ao óbito. Seu corpo foi cremado no Cemitério do Caju, no Rio. 


sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

O PAPA FRANCISCO E A MATANÇA DE CRIANCINHAS POR PARTE DO REI HERODES

                   O PAPA FRANCISCO, JESUS E O REI HERODES


                       Em sua mensagem neste Natal, o papa Francisco condenou 3 coisas:


  1. as guerras

  2. o massacre de crianças, fazendo referência à perseguição de Herodes, que ordenou o massacre das crianças, após o nascimento de Jesus para falar das crianças que morrem em bombardeios pelo mundo.

  3. a proliferação de armas, o comércio de armas.



                         No Novo Testamento, existem apenas 4 evangelhos: Mateus, Marcos, Lucas e João. 

 As lendas sobre o nascimento de Jesus estão apenas nos evangelhos de Mateus e Lucas. Não estão nos evangelhos de Marcos, nem no evangelho de João. E o evangelho de Marcos foi o primeiro a surgir. E são lendas muito diferentes e contraditórias porque são criações de escritores cristãos, e não um relato de um fato. 


 

                           MATEUS

                        LUCAS

                          1:18 a 25

                          2:1 a23

               


                          2:1 a 20


                                              

                                O REI HERODES MANDOU MATAR CRIANCINHAS 


                                                     Mateus 2:16 


“Vendo-se iludido pelos magos, enfureceu-se Herodes grandemente e mandou matar todos os meninos de Belém e de todos os seus arredores, de dois anos para baixo, conforme o tempo do qual com precisão se informara dos magos.”


                                           Na verdade, Herodes jamais mandou matar criancinhas. Era muito mal, porém, jamais mandou matar criancinhas. Isso, por exemplo, não está na lenda do nascimento de Jesus,  contida no evangelho de Lucas. 

                                           Por que está apenas no evangelho de Mateus? A resposta é simples: está apenas no evangelho de Mateus porque quem escreveu o texto queria passar para aquele povo que Jesus era o novo Moisés. O escritor, então, pegou lendas sobre Moisés, que estão no livro de Êxodo, no Velho Testamento, e as colocou nessa lenda sobre Jesus. Tudo isso para dizer que Jesus era o novo Moisés. 

                                           O massacre de criancinhas ordenado por Herodes para atingir a Jesus, que está em Mateus,  foi buscado pelo escritor na lenda sobre Moisés, que está em Êxodo 1:15, 16 e 22:

                                                   “O rei do Egito ordenou às parteiras hebréias, das quais uma se chamava Sifrá, e outra, Puá, dizendo: Quando servirdes de parteira às hebréias, examinai: se for filho, matai-o, mas, se for filha, que viva.”

                                                    Versículo 22: “Então, ordenou Faraó a todo o seu povo, dizendo: a todos os filhos que nascerem aos hebreus, lançareis no Nilo, mas a todas as filhas deixareis viver.”

                                                      E o menino Moisés escapou, e assim também Jesus.

                                    

               LENDA DE MOISÉS

                LENDA DE JESUS

  1. o rei do Egito manda matar os meninos

  2. O menino Moisés escapa

  1. o rei Herodes manda matar os meninos

  2. o menino Jesus escapa


                                                   

                                   O papa Francisco diz que Herodes era muito mal porque mandou matar criancinhas. Só que existe um problema aqui: o deus da Bíblia, criado pelos hebreus, que é o mesmo deus adorado pelo papa Francisco, também mandou matar muitas criancinhas. É impossível, pois, entender o raciocínio do papa Francisco. Se ele diz que Herodes era mal porque mandou matar criancinhas, então, obrigatoriamente terá que dizer a mesma coisa em relação ao deus bíblico. 




                                                              ÊXODO 12:29 

                                            “Aconteceu que, à meia-noite, feriu o Senhor todos os primogênitos na terra do Egito, desde o primogênito de Faraó, que se assentava no seu trono, até ao primogênito do cativo que estava na enxovia e todos os primogênitos dos animais.”


                                                           DEUTERONÔMIO 20:13

                                                     “E o Senhor, teu Deus, a dará na tua mão, e todos os do sexo masculino que houver nela passarás ao fio da espada, mas as mulheres e as crianças, e os animais, e tudo o que houver na cidade, todo o seu despojo, tomarás para ti.”


                                                         1 SAMUEL 27:9

                                                     “Davi feria aquela terra, e não deixava com vida nem homem nem mulher, e tomava as ovelhas, e os bois, e os jumentos, e os camelos, e as vestes.”


                                                          2 Samuel 12:15 e 18

                                                  “E o Senhor feriu a criança, que a mulher de Urias dera à luz a Davi, e a criança adoeceu gravemente. Ao sétimo dia, morreu a criança.”