domingo, 27 de junho de 2021

JAIR BOLSONARO E O REI HERODES BÍBLICO

JAIR BOLSONARO E O HERODES BÍBLICO O jornal Correio Braziliense, ontem, sábado, dia 26 de junho do corrente ano, em sua coluna “Sr. Redator”, página 10, trouxe um pequeno texto de autoria do advogado Túllio Marco Soares Carvalho. Ei-lo na íntegra: “A perversidade em tirar a máscara do rosto de uma criança, ou em ordenar que outra assim procedesse, em plena pandemia, expondo esses pequeninos à morte, como fez Bolsonaro, é algo tão aterrador que faz lembrar o infanticida Herodes --- governador da Judeia na época do nascimento de Jesus Cristo ---, responsável pelo episódio bíblico conhecido como “massacre dos inocentes”. Os evangélicos bolsonaristas professam um cristianismo tão distorcido e falso que os faz até idolatrar um Herodes disfarçado de messias.” Não conheço o advogado Túllio. Em seu texto, ele compara o político Jair Messias Bolsonaro ao rei Herodes que aparece no Novo Testamento da Bíblia cristã. Em que o advogado se apoiou para fazer essa comparação? Ele se apoiou na palavra “criança”. Uma criança, em relação a Jair Bolsonaro, e crianças, em relação ao rei Herodes. Túllio afirma que Bolsonaro praticou um ato aterrador, hediondo, quando anteontem, sexta-feira passada, ao receber um abraço de uma criança, retirou a máscara que cobria a boca e o nariz da inocente criatura. Sob a visão de Túllio, esse ato praticado por Bolsonaro é tão infame quanto a ação do rei Herodes que mandou matar todos os meninos de Belém e de todos seus arredores, de 2 anos para baixo, a fim de atingir o menino Jesus. Em relação ao comportamento de Jair Messias Bolsonaro, nenhuma discordância minha com o nobre advogado Túllio. Não consigo agregar ao político Jair Bolsonaro a palavra “presidente do Brasil”. Não consigo. Por isso, refiro-me a ele somente usando seu nome próprio. Ao retirar a máscara do rosto daquela criança, um ser inocente, Bolsonaro, mais uma vez, assinou um atestado de ignorância e de desrespeito à vontade dos pais. Um absurdo, uma atitude realmente reprovável sob todos os aspectos! No tocante à comparação com o rei Herodes, faço uma análise sobre o erro cometido pelo advogado. O rei Herodes que aparece no evangelho de Mateus nunca mandou matar meninos de Belém, de 2 anos para baixo, como está escrito. Esse massacre de inocentes não foi um fato, um caso real, algo que realmente ocorreu, mas uma lenda criada pelo cristão que escreveu o evangelho de Mateus. As narrativas lendárias sobre o nascimento de Jesus, que nunca foi o Cristo (Messias), estão apenas nos evangelhos de Mateus e Lucas. Os evangelhos de Marcos e João nada falam sobre o nascimento de Jesus. O primeiro evangelho a surgir foi o de Marcos e nele não havia relato algum sobre o nascimento de Jesus. Somente muitos anos depois é que surgiram outros evangelhos, e cristãos resolveram inventar as narrativas do nascimento. O cristão que escreveu o evangelho de Mateus inventou sua narrativa que é completamente diferente da narrativa inventada pelo cristão que escreveu o evangelho de Lucas. Por exemplo, essa matança de meninos de Belém e de seus arredores só existe no evangelho de Mateus. Ela não está no evangelho de Lucas. E não está por quê? Porque não se trata de um fato, de um episódio que realmente ocorreu. São lendas, e, nas lendas, os escritores são livres para escrever o que querem. Qualquer estudioso sério da Bíblia sabe a razão pela qual essa matança de inocentes não se encontra no evangelho de Lucas. A razão é simples: quem escreveu a narrativa lendária sobre o nascimento de Jesus que se encontra em Mateus, queria passar para aquele povo ignorante que Jesus era o novo Moisés. Por isso mesmo, criou sua lenda, trazendo para ela elementos lendários atribuídos a Moisés que estavam nos textos hebraicos, hoje precisamente no livro de Êxodo. Em relação a essa matança de meninos, veja o que está no livro de Êxodo, capítulo 1, versículo 22: “Então, ordenou Faraó a todo o seu povo, dizendo: A todos os filhos que nascerem aos hebreus lançareis no Nilo, mas a todas as filhas deixareis viver.” Percebeu, caro leitor? Quando o texto acima foi escrito, não havia um cristão sequer na face da Terra. Não havia um texto cristão, pois. E, nessa lenda sobre Moisés, é fácil ver que o Faraó mandou matar todos os meninos hebreus, somente os machos, e não as fêmeas. Por quê? Para impedir o surgimento do menino hebreu Moisés. E, na lenda, mesmo assim, Moisés escapou da matança! Depois de mais de mil anos após a feitura desse texto lendário, quando os cristãos surgiram, eles liam essas lendas que estão no Velho Testamento hoje, que não é velho para os judeus. E o cristão que escreveu a lenda sobre o nascimento de Jesus que está em Mateus, querendo passar a ideia de que Jesus era o novo Moisés, pegou essa matança de meninos e a colocou em sua lenda. O Faraó mandou matar todos os meninos para impedir o nascimento de Moisés. E aí quem escreveu o que está em Mateus deixou escrito: o rei Herodes mandou matar todos os meninos de 2 anos para baixo a fim de matar o menino Jesus. Moisés escapou da matança. Jesus, também. Entendeu, caro leitor? Quem escreveu a narrativa lendária que está em Mateus queria simplesmente isso: dizer que Jesus era o novo Moisés. Como, na lenda, Moisés foi o salvador do povo, Jesus seria o novo salvador do povo. É simples entender isso. O cristão que escreveu a narrativa do nascimento que está em Lucas não via Jesus como o novo Moisés, daí não ter se utilizado de passagens atribuídas a Moisés. Por isso, essa matança de meninos não está no evangelho de Lucas, apenas no de Mateus. Além disso, essa narrativa que está em Mateus é extremamente ingênua, infantil e hedionda! O cristão que escreveu essa bobagem não tinha a menor ideia de amor, de solidariedade. E o advogado Túllio nem percebe isso. Ele afirma que o rei Herodes praticou uma monstruosidade, isto é, mandou matar todos os meninos de 2 anos para baixo a fim de atingir o menino Jesus. Insinua o advogado que o deus da Bíblia, criado pelos hebreus, protegeu o menino Jesus, ajudou o menino Jesus a escapar da morte. Só que o advogado é incapaz de entender, por causa de sua crença, que o deus hebreu permitiu uma monstruosidade, ou seja, permitiu que todos os meninos de 2 anos para baixo, de Belém e de seus arredores, fossem mortos ao fio da espada. Isto é, o deus hebreu salvou apenas uma criança, Jesus, todavia, deixou as outras criancinhas nas mãos dos terríveis soldados do rei Herodes. O advogado Túllio e outros cristãos não percebem a loucura no que afirmam. Imagine o deus hebreu dizendo: “Vou salvar somente meu filho Jesus. Já os outros meninos, que morram sob o fio da espada dos soldados do rei Herodes” Essa lenda sobre o nascimento de Jesus está lotada de erros e absurdos que exigem outras análises, mas, para o momento, o que foi escrito acima basta.

A MORTE DO JOGADOR DE FUTEBOL ATEU SÓCRATES

 

 DEUS MATOU O EX-JOGADOR SÓCRATES?


Ontem, segunda-feira, dia 5 de dezembro do fluente ano, o jornal Correio Braziliense trouxe uma matéria acerca do ex-jogador de futebol Sócrates, no caderno de esportes, páginas 9 a 12.

Na capa do retrocitado jornal, uma foto do Sócrates vestido com a camisa amarela da Seleção brasileira e um pequeno texto intitulado “O revolucionário da bola”. Ei-lo na íntegra:

 

“O primeiro domingo de dezembro costuma ser o mais feliz para os milhões de brasileiros apaixonados pelo futebol. Mas Deus quis que um ateu e um dos maiores ídolos do esporte se fosse justamente nesse dia. Ontem, às 4h30, o agora eterno craque Sócrates morria no Albert Einstein, por causa de uma infecção generalizada. Sócrates foi mais que um jogador de futebol: foi o doutor (era formado em medicina), o camisa 8 das inesquecíveis Seleções de 1982 e 1986 e o líder da democracia corintiana. Crítico e Politizado, combateu a ditadura e brigou pelas Diretas, já! Nos últimos tempos, lutava contra o alcoolismo. O corpo do Paraense foi enterrado, ao som de violão e do hino do Corinthians, em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo.”

 

Do texto acima, destaco:

 

“MAS DEUS QUIS QUE UM ATEU E UM DOS MAIORES ÍDOLOS DO ESPORTE SE FOSSE JUSTAMENTE NESSE DIA.”

 

Religião é superstição! Os religiosos são extremamente criativos. Cristãos, por exemplo, dizem que Deus está por trás de tudo o que ocorre no mundo. Ou seja, as coisas ocorrem porque Deus deseja realmente que elas ocorram.

Há poucos dias, encaminhei aos leitores um artigo que abordava aquele acidente automobilístico que vitimou fatalmente 10 fiéis católicos e feriu outros. Uma cristã católica, Anatália Maria Franca, 56 anos, disse com fervor:

 

“Eu acho que Deus sabe o que faz. Não havia pessoas más na excursão. Todo mundo amava Nossa Senhora. Tenho certeza de que o Nosso Senhor sabe o que fez.”

 

Anatália, levada pela fantasia religiosa, diz que Deus causou aquela desgraça, matando 10 pessoas, inclusive crianças, e ferindo outras. Deus resolveu matar aquelas pessoas que, com muito custo, juntaram um dinheirinho para fazer uma excursão puramente religiosa. Os romeiros católicos foram visitar o santuário católico de Aparecida, no estado de São Paulo. Quando o ônibus estava retornando para Santo Antônio do Descoberto, no estado de Goiás, perto de Brasília, Deus resolveu agir num trecho da rodovia. Deu uma porrada no braço do motorista, levando-o ao descontrole do veículo. O ônibus bateu numa mureta e capotou. Caiu sobre várias pessoas, esmagando-as. E isso aconteceu porque, segundo a católica Anatália, Deus quis.

A mesma fantasia religiosa é repetida aqui, no caso da morte do ex-jogador Sócrates. Quem escreveu a matéria acerca do Sócrates é cristão porque afirma que Deus quis que o ateu Sócrates morresse justamente no primeiro domingo de dezembro, dia em que seu clube Corinthians ganhou o campeonato brasileiro.

Pura ilusão, caro leitor! Pura ilusão! A superstição cria na cabeça das pessoas um mundo repleto de ilusões. Cada um pensa do seu modo. E cada um escorrega na casca de banana.

Deus algum decidiu matar os 10 católicos que foram prestar culto a Ele. E Deus algum matou o ateu Sócrates, ex-jogador de futebol.

Sócrates morreu no primeiro domingo de dezembro de 2011. E daí? O que há de especial nesse dia? Ah, tá! O Corinthians ganhou o campeonato brasileiro! Sim, e daí? E daí nada, caro leitor! Nada! Apenas um festival de alucinações: Deus mata Sócrates no dia em que o seu time é declarado campeão brasileiro. Que loucura!

Ora, Sócrates faleceu no dia 4 de dezembro porque é normal que uma pessoa morra num dia qualquer. O dia primeiro de qualquer mês é um dia, assim como o dia 2, o 3, o 4, o 15 e o dia 31. Todos os dias são iguais. Sócrates morreu no primeiro domingo de dezembro do corrente ano. Ele foi a única pessoa a morrer nesse dia? Não! Centenas de pessoas em todo o mundo morreram também nesse dia. O Corinthians, paixão de Sócrates, ganhou pela primeira vez um título nesse dia? Não! Já ganhou vários títulos em outras datas. E Sócrates, como é óbvio, sobreviveu a todas. Percebeu, amigo leitor, a infantilidade da fantasia religiosa?

Deus algum destrói a vida de alguém. Deus algum salva a vida de alguém. Em nossa existência, tudo se resume em probabilidades. Não há interferência de deuses em nada. Os deuses são frutos da imaginação humana. E a imaginação humana é uma fábrica de superstições. Na realidade, tudo conspira contra as superstições.

Ocorrem acidentes de carro não porque Deus assim o quer, mas porque o índice de probabilidade é altíssimo em decorrência do número excessivo de veículos e também por causa da falibilidade humana. Aviões comerciais, por exemplo, dificilmente caem. Por quê? Será que Deus protege os aviões, e não os veículos? Nada disso! Os aviões são meios de transporte muito mais seguros do que os veículos por vários fatores: não se locomovem um ao lado do outro, não andam por estradas precárias, os pilotos não o conduzem sob efeito de álcool, os seus motores são mais potentes, não há muretas para eles colidirem etc. Ou seja, o avião é um dos meios de transporte mais seguro do mundo não porque Deus algum assim o quer, mas por outros fatores.

O elevador é considerado o meio de transporte mais seguro do mundo. Deus protege o elevador, abandonando os carros? Nada disso! Não há Deus algum. O elevador é o mais seguro, o mais confiável, por vários fatores: Só se locomove na vertical, numa reta, sem curva alguma. Movimenta-se sozinho, num espaço apenas seu, sem que haja outro elevador para a ocorrência de choques. Sua velocidade é reduzidíssima, quase parando, à moda de Rubinho Barrichello. E, se por alguma irregularidade atingir uma velocidade maior, uma trava entra em ação, segurando o elevador, para evitar que ele desabe. Por esses fatores, o elevador é considerado o meio de transporte mais seguro do mundo, e não porque Deus adora os elevadores.

Tudo, amigo leitor, se resume em probabilidade. Qual é, por exemplo, o índice de probabilidade que existe no fato de uma jumenta cair do céu na cabeça de um cristão ou de um ateu? O índice de probabilidade é zero! É zero porque não existe jumenta alguma passeando no céu da Terra. Jumenta, como é óbvio, não voa. E qual é o índice de probabilidade no fato de um passarinho cagar na cabeça de uma pessoa? O índice é baixo, mas existe. Muitas pessoas já tiveram a cabeça atingida por um pedaço de bosta soltado por um cu de pássaros. Eu mesmo já passei por isso. Estava no estádio do Gama, assistindo ao jogo do Gama e Grêmio. Num dado instante, senti uma coisa leve e quente em minha cabeça. Pensei até que a cabeça estava sangrando. Passei a mão e peguei uma coisa líquida. Olhei e vi que era bosta de um passarinho. Olhei para o céu e avistei alguns passarinhos passeando. Deus algum quis que aquele passarinho cagasse na minha cabeça. Caiu na minha cabeça por mera probabilidade. A minha cabeça é grande por ser cearense. Só aí já levo desvantagem em relação às outras pessoas. E o passarinho caga no ar, sem se preocupar com quem está lá embaixo. Ele não tá nem aí.

Sócrates morreu no primeiro domingo de dezembro de 2011 porque é normal que pessoas morram em qualquer dia. E o Corinthians ganhou o campeonato brasileiro nesse dia porque já era a data programada pela CBF (Confederação Brasileira de Futebol) para o jogo final. E o Corinthians foi um dos finalistas porque vinha apresentando um bom futebol. Havia, portanto, uma forte probabilidade de ele ser o campeão.

O resto, amigo leitor, não passa de superstição!