segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

OS RICOS ENTRARÃO NO REINO DE DEUS?

                                        OS RICOS ENTRARÃO NO REINO DE DEUS?


                                                                                                                                                                                                                                                                                                             Eustáquio




                             A Bíblia, em Marcos 10: 25, diz:
 
 
                            “É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que entrar um rico no reino de Deus.”
 
                            A frase acima foi atribuída a Jesus Cristo, mas não pertence a ele. Essa expressão já era citada naquele tempo muito antes de Jesus ter vindo ao mundo.
                            Uma grande parte dos cristãos pensa que os ricos, quando morrerem, não entrarão no reino de Deus. Os cristãos Silas Malafaia, Edir Macedo, Estevam Ernandes, Benedito Domingos, Roriz, R.R.Soares, Robson Rodovalho e outros não concordam com essa penalidade. Eles, obviamente, são ricos.
                           É impossível, e não mais fácil, um camelo passar pelo fundo de uma agulha. Os Cristãos dizem que para Deus nada é impossível. No presente caso, é. Para um camelo passar pelo fundo de uma agulha, Deus teria que modificar profundamente o camelo ou a agulha. Se Deus reduzir o camelo à dimensão de uma linha, já não será um camelo. Se aumentar o buraco da agulha, deixando-o maior do que um camelo, já não teremos uma agulha. Logo, é impossível um camelo passar pelo fundo de uma agulha.
                           E os ricos poderão entrar no reino de Deus? Segundo o versículo acima, com maior razão, não! Os ricos, é óbvio, apenas quando morrerem não poderão entrar no reino de Deus. É bom, então, que as pessoas ricas do Brasil depositem sua riqueza em minha conta corrente aberta no Banco do Brasil, caso queiram entrar no reino de Deus. E devem fazer os depósitos antes de morrerem, pela razão mais óbvia. Eu, desde já, agradeço antecipadamente as doações.
                          Na época de Jesus, há 2 mil anos, a Palestina era um lugar marcado pelo analfabetismo e pobreza extrema. Pessoas pobres e analfabetas se uniram na crença de que o judeu pobre Jesus seria o “Messias”, o Salvador que iria livrar o povo do domínio romano. Jesus não conseguiu livrar ninguém. Foi morto pela truculência romana. Pois bem! Os cristãos eram pobres e analfabetos. Em razão dessa pobreza imensa, passaram a propagar que os ricos da época não entrariam no reino de Deus. É claro, os ricos passavam o dia todo xingando os cristãos. Por isso, está escrito no Novo Testamento que os ricos não entrarão no reino de Deus.
                         Hoje, ano 2014, tudo está mudado. Há cristãos milionários, e o analfabetismo quase não existe. As igrejas cristãs faturam uma grana alta e poderosa. O slogan “pequenas igrejas & grandes negócios” é verdadeiro. Faturam muito mais dinheiro do que inúmeras empresas brasileiras. Mas, infelizmente, ainda há cristãos, os pobres, claro, que pensam que os ricos não entrarão no reino de Deus.
                        O reino de Deus não é um lugar físico, existente no Universo, fora do planeta Terra. Os judeus viam o reino de Deus na própria Terra, na Palestina, em que um rei viria salvar o seu povo do domínio romano. Os judeus sempre esperaram esse rei e o estão esperando até hoje, e vão esperar para sempre porque rei algum virá. Quando o judeu Jesus nasceu, muita gente de sua comunidade pensou que ele seria o rei salvador esperado há muito tempo. Obviamente, não era. O que aconteceu? Jesus se revoltou contra a injustiça e o domínio estrangeiro. Resultado: foi morto ainda jovem pelos romanos. E o mundo judeu, na época, ficou dividido entre aqueles que acreditavam em Jesus (minoria), e os que não acreditavam em Jesus (maioria). A minoria (os cristãos que acreditavam em Jesus) escreveu o que está escrito no Novo Testamento. É por isso que Jesus Cristo, na Bíblia, alcança o ápice.
                       Os cristãos pobres, coitados, veem o versiculo acima como um consolo. Eles estão passando fome na Terra, mas acreditam que vão comer bastante no reino de Deus. E também não ficarão mais doentes. Até a morte não haverá mais. Essa utopia, ilusão, é propagada por muitos líderes religiosos. Estes estão com os bolsos cheios de dinheiro, mas os fiéis... A propaganda de que existe um reino de Deus à espera dos pobres, onde irão comer bastante, é uma das bandeiras dos líderes religiosos. Cristãos pobres ainda são espoliados por meio do dízimo. Conheço vários que recebem mensalmente um salário mínimo por mês, e ainda entregam às igrejas 10% do miserável salário. Em sua casa, faltam leite, pão, feijão, carne, arroz etc. Mas, se sentem felizes, porque acreditam que irão sair da pobreza quando chegarem ao reino de Deus. Só quando morrerem, claro!
                   Na verdade, os líderes cristãos já estão vivendo no reino de Deus. Aqui, mesmo, em nosso planeta Terra. Eles não precisam morrer para alcançar o paraíso. Têm muito dinheiro, excelente alimentação, carros importados, helicópteros, mansões no Brasil e no exterior, gráficas, livrarias, gravadoras etc. Já os cristãos pobres devem ter paciência, muita paciência. Devem suportar sua pobreza com alegria porque serão recompensados no reino de Deus. Mas, é claro, somente quando morrerem.
                  O ex-presidente Lula, em 2011, num auditório de um hotel em Salvador, na Bahia,  fez um discurso que agradou as pessoas presentes, porém não foi bem visto pela comunidade cristã. Ele disse:
 
                   “- Bobagem, essa coisa que inventaram que os pobres vão ganhar o reino dos céus. Nós queremos o reino agora, aqui na Terra. Para nós inventaram um slogan que tudo tá no futuro. É mais fácil um camelo passar no fundo de uma agulha do que um rico ir para o céu . O rico já está no céu, aqui. Porque um cara que levanta de manhã todo o dia, come do bom e do melhor, viaja para onde quer, janta do bom e do melhor, passeia, esse já está no céu. Agora o coitado que levanta de manhã, de sol a sol, no cabo de uma enxada, não tem uma maquininha para trabalhar, tem que cavar cada covinha, colocar lá e pisar com pé, depois não tem água para irrigar, quando ele colhe não tem preço. Esse vai pro inferno”.
 
                    O Lula, apesar de não gostar de ler, disse a mais pura verdade. Parece até que ele andou pesquisando alguma coisa na teologia. Os donos do poder sempre fizeram uso da teologia cristã para acalmar os pobres, colocando em sua cabeça que a pobreza será extinta no reino de Deus. Lula também fez isso. Como está fora do Poder, faz hoje um discurso diferente.
                    A comunidade cristã não entendeu nada do que o Lula disse. Ficou magoada. E não entendeu nada do que está escrito no versículo bíblico que aparece no início deste artigo.

domingo, 21 de dezembro de 2014

O DEUS DA BÍBLIA É ONISCIENTE? ( I )

                                  O DEUS DA BÍBLIA É ONISCIENTE?    ( I )



                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                  Eustáquio





                Eis o primeiro artigo de uma longa série com o título acima. Ao longo dos artigos, mostrarei inúmeras passagens bíblicas que colocam a onisciência do Deus dos cristãos na lata de lixo.
Yves Lambert, doutor em Sociologia, especialista em religião, falecido em 2006, em seu livro “O Nascimento das Religiões – da pré-história às religiões universalistas”, Edições Loyola, São Paulo, 2011, página 162, escreve:

As divindades são à imagem dos humanos: têm necessidades, qualidades e defeitos, humores e conhecimentos, além do superpoder e da imortalidade.”

              Muita gente pensa erroneamente, por pura ignorância, que a Ciência não estuda o fenômeno religioso. Ao contrário, e aqui está mais uma prova. Yves Lambert era doutor em Sociologia, e sua especialidade era o estudo sobre as religiões. A Sociologia, pois, é uma Ciência que estuda o homem em sociedade. Já que o homem convive com religiões e deuses em diferentes sociedades, esses elementos são estudados à luz da Sociologia. A Antropologia, que é outra Ciência, também estuda o fenômeno religioso, e aí temos a chamada Antropologia Cultural. Percebeu, caro leitor, como a Ciência estuda as religiões?
                Pois bem! Nesse livro, Yves Lambert faz um estudo comparado das religiões e dos deuses, da Pré-História ao Budismo. A Pré-História é o período mais longo da existência humana. Aí o homem não havia inventado ainda a escrita. Como o homem da Pré-História sempre criou deuses e religiões, esses elementos chegam até nós por outras provas que não a escrita. A escrita só veio a surgir no período chamado História. E aí temos inúmeras religiões e deuses comprovados pela escrita. A História surgiu praticamente ontem, por volta de 4 mil anos, o que não é nada diante do longo período chamado Pré-História. Resumindo, temos religiões e deuses na Pré-História e também na História. O Cristianismo, por exemplo, é uma religião muito nova. Surgiu apenas há 2 mil anos. Antes desse período, nada de Jesus. O Judaísmo surgiu por volta de 4 mil anos. Antes desse período, nada de Moisés, nada de Deus Javé etc. E há 4 mil anos, na região da Mesopotâmia, surgiram inúmeras religiões e deuses. O Deus Javé, criado pelo povo hebreu, é mais um deus dentre milhares.
            Yves Lambert diz acima que “as divindades são à imagem dos humanos.” Eis uma grande verdade! Ora, o homem, ao longo de sua existência, criou deuses (divindades). O homem da Pré-História criou vários deuses. O da História, também. Ao criar os deuses, as divindades, o homem transmite a eles suas características. Então, a imagem dos deuses é a imagem do homem que os cria. Se o homem tem necessidades, qualidades e defeitos, os deuses terão necessidades, qualidades e defeitos. O Deus da Bíblia, por exemplo, foi criado pelo povo hebreu. Esse povo transmitiu a esse deus suas necessidades, qualidades e defeitos. Era um povo nômade, guerreiro, violento, intolerante, vingativo, ciumento etc. Daí o Deus Javé ser um deus guerreiro, violento, intolerante, vingativo, ciumento etc. O povo egípcio, por exemplo, criou também seus deuses e pôs neles suas necessidades, qualidades e defeitos. E assim por diante. Cada povo com suas necessidades, qualidades e defeitos, e cada deus com suas necessidades, qualidades e defeitos.
                   Muito bem! Espero que você, leitor amigo, esteja entendendo como o homem fabrica deuses à sua imagem e semelhança. Yves Lambert diz também acima que, além de o homem transmitir às divindades suas necessidades, qualidades e defeitos, põe nelas também qualidades que não pertencem ao homem (o superpoder e a imortalidade). O homem não tem o superpoder, nem a imortalidade, mas os deuses os têm. Ou seja, o homem coloca nos deuses qualidades outras que inexistem no próprio homem. É por isso que os crentes dizem que seus deuses são superpoderosos e imortais.
Como estou tratando do Deus da Bíblia, criado pelo povo hebreu, além das necessidades, qualidades e defeitos daquele povo, o Deus Javé ganhou também o superpoder (o Todo Poderoso) e a imortalidade. É por isso que os cristãos dizem que o Deus da Bíblia é onisciente, onipresente e onipotente. Tudo isso invenção do homem! A Bíblia está repleta de lendas, mitos, hipérboles, fábulas e erros de toda espécie. Os cristãos não veem essa verdade por causa do fanatismo religioso. O fanático não vê o seu defeito, só consegue visualizar o defeito dos outros. Pois bem! Já que as narrativas bíblicas são muito infantis e ingênuas, elas próprias negam a onisciência, a onipresença e a onipotência do Deus Javé. Assim, ao lermos inúmeras passagens bíblicas, ficamos sabendo que essas qualidades não existem no Deus Javé. A Bíblia, pois, não é um conjunto de livros de Ciências, de história propriamente dita. É principalmente um conjunto de livros de cunho religioso, daí as fantasias de Gênesis ao Apocalipse.
                 Neste artigo, o primeiro de uma série, vou mostrar uma passagem bíblica que nega a onisciência do Deus Javé. O que é a onisciência? Onisciência é a qualidade de onisciente. E onisciente é aquele que sabe tudo. A onisciência é, pois, uma qualidade que o homem colocou nos deuses, ao criá-los. É por isso que, por exemplo, os cristãos dizem que o Deus Javé é onisciente. Porém, as narrativas bíblicas derrubam essa onisciência do Deus Javé. Veja, amigo leitor, um exemplo. Em Êxodo, capítulo 4, versículos 8 e 9, temos:


8 Se eles te não crerem, nem atenderem à evidência do primeiro sinal, talvez crerão na evidência do segundo.
 9 Se nem ainda crerem mediante estes dois sinais, nem te ouvirem a voz, tomarás das águas do rio e as derramarás na terra seca; e as águas que do rio tomares tornar-se-ão em sangue sobre a terra.”



              Trata-se, aqui, da mitologia bíblica sobre o êxodo, a saída do povo hebreu de Israel. Uma das maiores fantasias da Bíblia que vou mostrar ao longo do tempo. Nesses versículos, acaba-se a onisciência de Deus. Deus nada sabe do que pode acontecer amanhã. Nessa narrativa fantasiosa, Deus chama Moisés para libertar o povo de Israel do jugo egípcio. E aqui coloca para Moisés 2 sinais (a vara que se transforma em serpente, e a mão que fica leprosa). Deus ordena a Moisés que vá até ao Faraó e mostre-lhe os dois sinais. E Deus diz ainda que o Faraó deve acreditar no primeiro sinal. Se não acreditar no primeiro sinal, talvez acreditará no segundo sinal. Ou seja, o próprio Deus não sabe o que ocorrerá, o que vai acontecer alguns dias depois. E o pior é que, segundo a lenda, o Faraó nem acreditou no primeiro sinal, nem acreditou no segundo sinal, nem acreditou em 9 pragas lançadas. Só veio a acreditar na 10ª praga. Percebeu, leitor amigo, como a ONISCIÊNCIA do Deus Javé desapareceu, sumiu?
              Os cristãos, lamentavelmente, não veem essa verdade por causa do fanatismo religioso. Líderes religiosos, nos púlpitos, pregam que Deus é onisciente, e os fiéis vão acreditando.